Infância, um poema de João Cabral de Melo Neto
João Cabral com o irmão mais velho, Virgínio (à esquerda), em 1924 |
O poema Infância foi publicado em 1942, incluído no primeiro livro de poesias de João Cabral de Melo Neto (1920 - 1999), "Pedra do Sono", em edição custeada pelo próprio autor e tiragem de 340 exemplares. Segundo introdução de Marly de Oliveira à Obra Completa de joão Cabral de Melo Neto da editora Nova Aguilar, "Pedra do Sono" não surgiu como uma obra revolucionária, apesar de considerado um dos precursores do Concretismo. Ainda segundo Marly: "este era um momento importante da literatura brasileira, no qual, depois do Movimento de 22, um Manuel Bandeira, um Carlos Drummond de Andrade, uma Cecília Meireles, um Murilo Mendes, um Jorge de Lima, atuavam na plenitude de seus recursos técnicos (e poéticos). Não havia, como na geração de 22, uma necessidade de insurgir-se contra a geração parnasiana anterior: o problema estava na diferenciação (...)". Intermináveis carrosséis da infância...
Infância
Sobre o lado ímpar da memóriao anjo da guarda esqueceuperguntas que não se respondem.
Seriam hélicesaviões locomotivastimidamente precocidadebalões-cativos si-bemol?
Mas meus dez anos indiferentesrodaram mais uma veznos mesmos intermináveis carrosséis.
Comentários
Belíssimo poema.
"Você vê os gregos, o Pégaso, o cavalo que voa, é o símbolo da poesia. Nós deveríamos botar antes, como símbolo da poesia, a galinha u o peru - que não voam. Ora, para o poeta, o difícil é não voar, e o esforço que ele deve fazer é esse. O poeta é como o pássaro que tem que andar um quilômetro pelo chão."
(João Cabral de Melo Neto)