Haruki Murakami - 1Q84

Literatura japonesa contemporânea
Haruki Murakami - 1Q84 (Livro 1) - 432 páginas - Editora Objetiva, Selo Alfaguara - Tradução direta do japonês de Lica Hashimoto - Lançamento no Brasil 2012 (lançamento original no Japão em 2009).

Murakami acertou em cheio com esta trilogia 1Q84, um verdadeiro evento no mundo editorial, tendo já ultrapassado 4 milhões de exemplares vendidos no Japão, e um golpe de mestre de um dos maiores autores contemporâneos. O romance completo é extremamente ambicioso, tanto pela sua extensão de mil páginas quanto pela liberdade de estilo. Aqui no Brasil a decisão da editora foi respeitar o formato da publicação original japonesa em três volumes (o segundo volume será lançado em março de 2013 e o terceiro ainda está sendo traduzido, sem data prevista de lançamento), diferente da tradução americana da editora Knopf que lançou todos os volumes em um único calhamaço. Este "Livro 1" dispara em alta velocidade narrativa, ritmo cinematográfico mesmo, misturando literatura policial noir com muito suspense e ficção científica, como sempre repleto de referências culturais ocidentais e orientais, estratégia que Murakami sempre conduziu muito bem em todos os seus livros anteriores que o fazem um candidato permanente ao Nobel de literatura todos os anos.

Os dois protagonistas conquistam o leitor logo de início, tanto a misteriosa assassina de aluguel chamada Aomame (ervilha verde) quanto o professor de matemática e aspirante a escritor,  Tengo, conduzem a trama em uma sequência de capítulos intercalados que avançam em paralelo e revelam aos poucos a relação dos dois que tem origem em uma antiga paixão infantil. Ambos vivem em Tóquio e têm por volta de trinta anos em 1984, ano em que se passa a parte principal da narrativa em uma referência ao famoso romance de George Orwel. Aomame e Tengo são igualmente solitários e resolvem o problema do sexo com relações sem amor, ela com homens que encontra em bares e ele mantendo um caso com uma mulher mais velha e casada. Separados desde crianças, o destino dos dois vai se aproximando à medida que o romance progride (o próprio Murakami resumiu absurdamente o motivo do livro com a seguinte frase: "um garoto encontra uma garota, eles se separam e buscam um ao outro").

Aomame ganha a vida como professora de artes marciais para mulheres se defenderem de ataques mas, nas horas vagas, presta serviços para uma estranha organização que protege mulheres agredidas sexualmente em seus lares por maridos cruéis (talvez uma crítica ao machismo da sociedade japonesa), providenciando a "eliminação" dos homens agressores. Aos poucos, através de imperceptíveis desvios da história, ela descobre que está vivendo em um mundo paralelo com duas luas que decide chamar de 1Q84, com a letra Q de "Question mark"; um quê de dúvida, de interrogação. A cultura japonesa da disciplina e autocontrole está sempre permeada pelos personagens, mesmo nas situações mais absurdas. Aomame, por exemplo, domina uma técnica singular para matar, perfurando uma agulha em um ponto preciso da nuca de suas vítimas e provocando a morte instantânea, sem evidência de sangue, o que caracteriza a morte como um ataque cardíaco.

Tengo também é extremamente disciplinado, domina a técnica de escritor, mas ainda não conseguiu escrever um romance original quando recebe uma proposta do editor de uma famosa revista literária para reescrever o romance "A crisálida de ar" de uma bela e enigmática jovem escritora de dezessete anos (disléxica) que, apesar de brilhante e original nas ideias, carece justamente de um texto organizado. Tengo se apaixona pelo livro e decide assumir a empreitada, ciente dos riscos para a sua futura carreira literária. Esta escritora é, na verdade, fugitiva de uma perigosa seita religiosa chamada Sakigake e a notoriedade trazida pelo romance será uma ameaça a todos.

Comentários

Sheila disse…
Que maravilha este seu blog! Não tem como não seguir :)

Boa semana.
Anônimo disse…
Já estava interessada nesse livro, mas depois de ler a sua resenha me rendi. A ficção científica aliada a outros temas numa trama, torna a leitura mais interessante e envolvente mesmo para aqueles que não curtem esse gênero literário.
Alexandre Kovacs disse…
Sheila, muito obrigado pelo comentário gentil!
Alexandre Kovacs disse…
Flávia, muito recomendado, o único inconveniente é ter de aguardar agora os lançamentos dos volumes (2) e (3)!
Tati disse…
Quero muito ler esse livro! Já tenho ele aqui, acho que vou começar esse fim de semana!
Ótima resenha e ótimo blog, estou me identificando muito com seus gostos literários!
Se quiser, dá uma passadinha para conhecer meu canto www.nopaisdasentrelinhas.blogspot.com
Abraço,
Tati
Alexandre Kovacs disse…
Tati, obrigado pelo comentário e seja bem-vinda por aqui. Vou lá conhecer o seu blog.
deise disse…
Adorei a dica, vou correndo comprar... Mas concordo com você, vai ser difícil esperar os outros.
Alexandre Kovacs disse…
Deise, a demora no lançamento é compensada pelo fato de que a tradução está sendo feita diretamente do japonês e não indiretamente do inglês.
Anônimo disse…
Gostei de ver que você aprovou! Na minha livraria, pequenina da Gávea, o livro havia se esgotado próximo ao Natal e me pediram para voltar lá depois do dia 6 o que foi feito com prazer. Afinal, eu já estava às voltas com outras leituras. Mas fico feliz de ver que não desapontou. Eu estava à espera dessa publicação por causa de todo o barulho que o livro já causou lá fora.
Boa resenha, Kovacs, o anos de 2013 promete.
Ladyce
Alexandre Kovacs disse…
Peregrina / Ladyce, fico então aguardando a sua resenha e, no meu caso, foi uma grata surpresa com Murakami já que tinha ficado com um gostinho de decepção depois de "Minha Querida Sputnik" (justamente devido ao barulho excessivo da mídia).
ThaTha disse…
Gostei muito do livro. A forma como as histórias, aos poucos, vão se cruzando, é bastante intrigante e à medida que novos elementos vão surgindo, fica impossível largar o livro, tanha a curiosidade. Os personagens são densos, cheios de mistérios e vai ser um prazer desvendá-los melhor nos próximos volumes.
Beijos, Kovacs
Alexandre Kovacs disse…
Thatha, a forma como as tramas são conduzidas, paralelas e revelando aos poucos os pontos em comum com os personagens, prendem o leitor ao romance. Obrigado pela visita e comentário!
gianna disse…
Segui a dica. Muito bom! Aliás, seus comentários são ótimos, dificilmente deixam de despertar meu interesse. Que bom contar com seu blog.
Alexandre Kovacs disse…
Gianna, fico feliz que tenha gostado da indicação e obrigado pelo comentário gentil!
wande filho disse…
Ola..sempre que acabo um livro gosto de dar uma olhada geral para saber as impressões de outros leitores. Acabei hoje o 1q84 e confesso que estou com uma sensação ambígua de gosto e decepção. Sei lá,mas não achei o enredo tão bem amarrado, as histórias todas meio absurdas ( o professor, sem nada em comum com o pai da fukaeri, mas se sentir tão amigo dele; a aomame ter desenvolvido uma técnica de matar tão apurada espontâneamente; ela ser uma assassina mas ao mesmo tempo dar liberdade e rápida intimidade para a policial Ayume...) Não sei, mas ando desconfiado dessas unanimidades literárias. Adorei o "Sputinik", mas esse tão aguardado 1q84 não me cativou muito não. Ainda assim, vou dar uma chance para o livro 2...espero que me anime! Um grande abraço e parbéns pelo blog!
Alexandre Kovacs disse…
Wande, a ficção de Murakami é muitas vezes enquadrada como "realismo fantástico" devido à sua habilidade em esticar os limites da narrativa, no meu caso gostei mais de 1Q84 do que "Minha Querida Sputnik". Obrigado pela visita e comentário!
Anônimo disse…
Acabei de ler o primeiro, livro de leitura facil e gostosa. gostei bastante. O segundo já ta encomendado e agora vamos aguardar o terceiro!!
Solange disse…
achei seu blog graças ao post do Murakami e adorei. Li tudo dele e estou terminado o 2o. vol do 1Q84. é um dos meus escritores preferidos e os personagens Tengo/Aomami são uma das melhores descrições do bom estilo Murakami. Vc sabe qual a história original e autor alemão da "cidade dos gatos" que Tengo lê neste 2o.vol?
Alexandre Kovacs disse…
Solange, obrigado pelo comentário gentil. O problema com Murakami é que ele cita referências que mais parecem ter sido inventadas, como a sinfonietta de Janáček. Se algum amigo souber informar sobre a origem da "cidade dos gatos" agradeço antecipadamente!

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