Wislawa Szymborska - Poemas

Literatura polonesa
Wislawa Szymborska - Poemas - Editora Companhia das Letras - 168 páginas - Lançamento 26/09/2011 - Seleção, tradução e prefácio de Regina Przybycien (ler aqui trecho em pdf disponibilizado pela editora).

Um livro absolutamente indispensável para quem gosta de poesia e procura entender um pouco mais dessa estranha matéria chamada natureza humana. É a primeira tradução da polonesa Wislawa Szymborska (1923-2012), prêmio Nobel de literatura de 1996, no Brasil, talvez pelo fato da língua original representar um desafio tão grande para qualquer tradutor com os seus assustadores agrupamentos consonantais, a começar pelo nome da própria autora que, por sinal, pronuncia-se como Vissuáva Chembórska. Para conhecer mais sobre o trabalho dela, recomendo visitar o site do prêmio Nobel com biografia e outras informações.

Wislawa Szymborska sempre procurou preservar a sua vida particular, tendo concedido poucas entrevistas e deixado somente doze pequenos volumes de poesia com algumas centenas de poemas. Ao ser extremamente seletiva com a qualidade de seu trabalho, ela parece comprovar que a grandeza de um poeta também pode ser avaliada pelo que deixou de publicar.

Assim como outros autores poloneses que viveram os horrores da Segunda Guerra Mundial e, posteriormente, décadas de totalitarismo comunista, Szymborska reflete sobre a condição humana através de indagações simples, carregadas de ironia. A temática dos poemas é muitas vezes sombria e até mesmo trágica, mas a abordagem é quase sempre bem-humorada. O poema abaixo, "Nuvens", me lembra a maravilhosa citação de outro grande poeta, o nosso Mario Quintana: "As únicas coisas eternas são as nuvens"!

          Nuvens
          (Wislawa Szymborska, 2002)

          Para descrever as nuvens

          eu necessitaria ser muito rápida
          numa fração de segundo
          deixam de ser estas, tornam-se outras.

          É próprio delas

          não se repetir nunca
          nas formas, matizes, poses e composição.

          Sem o peso de nenhuma lembrança

          flutuam sem esforço sobre os fatos.

          Elas lá podem ser testemunhas de alguma coisa

          logo se dispersam para todos os lados.

          Comparada com as nuvens

          a vida parece muito sólida,
          quase perene, praticamente eterna.

          Perante as nuvens

          até a pedra parece uma irmã
          em quem se pode confiar,
          já elas — são primas distantes e inconstantes.

          Que as pessoas vivam, se quiserem, 

          e em sequência que cada uma morra,
          as nuvens nada têm a ver
          com toda essa coisa
          muito estranha.

          Sobre a tua vida inteira

          e a minha, ainda incompleta,
          elas passam pomposas como sempre passaram.

          Não têm obrigação de conosco findar.

          Não precisam ser vistas para navegar.

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