Isa Fonseca - A paz do meu avô
Isa Fonseca - A paz do meu avô - Editora Livros de Safra - 158 Páginas - Capa de Adriana Melo - Foto da capa: Antonio Dias de Arruda, do pai da autora no parque Trianon, São Paulo, década de 1920 - Diagramação de Kathya Nakamura - Lançamento: 17/10/2013.
Este romance memorialista, ambientado nos anos sessenta, tem a narrativa conduzida em primeira pessoa por Tomás, um menino na fase de 11 a 13 anos de idade, na qual se é "grande demais para chorar por bobagens e criança demais para largar os brinquedos". Isa Fonseca assume um gênero pouco publicado por autores contemporâneos, mas que já foi consagrado na literatura brasileira em obras de Érico Veríssimo, Graciliano Ramos e Zélia Gattai, para citar somente alguns poucos exemplos.
Este romance memorialista, ambientado nos anos sessenta, tem a narrativa conduzida em primeira pessoa por Tomás, um menino na fase de 11 a 13 anos de idade, na qual se é "grande demais para chorar por bobagens e criança demais para largar os brinquedos". Isa Fonseca assume um gênero pouco publicado por autores contemporâneos, mas que já foi consagrado na literatura brasileira em obras de Érico Veríssimo, Graciliano Ramos e Zélia Gattai, para citar somente alguns poucos exemplos.
Em A paz do meu avô a autora trabalha com a visão ingênua e parcial do protagonista-narrador, fazendo com que o leitor descubra aos poucos, juntamente com ele, os mistérios que envolvem o desaparecimento do pai e os segredos entre a mãe e o avô, assuntos de adultos, mas que afetam toda a família. O processo de descoberta da realidade, e de que as pessoas não são perfeitas, coincide com a perda da ingenuidade de Tomás e o final precoce da sua infância.
"O meu pai. O pai perdera a pouca paciência que tinha com todos nós e um dia deixou um bilhete em cima da mesa e se foi, no meio da madrugada, não se sabe para onde. Eu sabia que havia perdido a paciência comigo, com a mãe e meu avô, mas, principalmente, havia perdido a paciência com a pobreza. Em dias de ira, ele esbravejava: 'não há nenhum glamour na miséria!' Como o avô era de origem francesa, eu achava que estava sempre se referindo a ele, ao meu avô, dando uma indireta para ele quando soltava a frase. Porque colocava, também, muita ênfase na palavra 'glamour', pronunciando-a como um francês – 'ourrrrrrr', olhando de canto para o avô. E, também, porque tudo o que acontecia naquela casa (na nossa antiga moradia), parecia culpa do pai da minha mãe. Os dois, o pai e o avô, eram cão e gato. Gato e rato. Rato e lagartixa. Mas o avô não retrucava, não provocava, não chamava para a briga. A mãe tinha a quem puxar. Ela, que também só parecia querer tranquilidade." (p. 16)Devido às dificuldades financeiras, a mãe, Leonor, e o avô francês Jacques, chamado no Brasil de Joaquim, ou simplesmente Quim, vendem todos os pertences da família em São Paulo e se mudam para uma região do interior chamada Vale das Montanhas, em Avermelhados; lá passam a gerenciar e morar no hotel de uma tia, juntamente com Hortência, uma fiel empregada que já trabalhava no local quando eles chegaram, solteira, de seus sessenta e tantos anos. O jovem Tomás não tem amigos na escola na nova cidade, por ter se mudado há pouco tempo, exceto por Cleo que provoca nele sentimentos que ainda não consegue entender.
"E lá estava ela, como que esperando por mim, sentada num dos bancos da praça, agarrada, de lado, a uma boneca de pano grande de cabelos cor de milho espetados e olhos arregalados, os braços abertos retos e duros, como um espantalho de milharal. Cleo balançava as pernas com o ar de quem não está fazendo nada, a não ser estar lá, naquele banco, àquela hora de comecinho de noite, aconchegando a boneca e brincando com os pés. Metida ainda em seu uniforme azul-escuro, a saia de pregas e mostrando as meias três-quartos brancas dentro dos sapatinhos pretos de fivela. Não era linda, mas vê-la mexia comigo e, como dizia o avô: 'o amor exige beleza, ainda que essa beleza não venha do senso comum.' E eu, já naquela época, entendia perfeitamente o que o Quim queria dizer. Não, Cleo não era bela, mas para mim era a menina mais bonita do mundo. Assim como minha mãe era a mulher mais linda do mundo (apesar de não ser perfeita)." (p. 53)Um romance de formação sobre perdas e a necessidade de encontrar forças para continuar, apesar de tudo. Ao focar a narrativa na percepção de uma criança, a autora trabalha no terreno subjetivo da memória e desperta no leitor lembranças, tristes ou não, que imaginava estivessem perdidas em algum lugar do passado. Para isso também serve a literatura.
Sobre a autora: Isa Fonseca nasceu em Curitiba, Paraná, passou a infância e a adolescência no interior de São Paulo e mora nesta capital há algumas décadas; cursou Letras na USP, formou-se em Jornalismo pela FAAP e possui mestrado em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP na área de cinema. No início da década de 80, ganhou o prêmio do Concurso Literário da Secretaria de Cultura do Paraná, na categoria contos.
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