Alexandra Vieira de Almeida - A negra cor das palavras
Alexandra Vieira de Almeida - A negra cor das palavras - Editora Penalux - 102 Páginas - Editoração Eletrônica e Capa de Karina Tenório - Posfácio de Nuno Rao - Lançamento: 2020.
Os poemas neste mais recente lançamento de Alexandra Vieira de Almeida, A negra cor das palavras, lidam com os simbolismos relacionados ao chiaroscuro, como era denominada a técnica de pintura renascentista que consistia em revelar os objetos por meio do contraste entre luz e sombra. Neste jogo de diferenças – mas que pode revelar também harmonia – a poeta destaca as palavras impressas contra a página em branco, a lua que inspira a noite dos poetas, o amanhecer a brincar com a madrugada na floresta negra, o vinho tinto e o erotismo ácido das estrelas, companheiros da aventura da escrita e tantos outros signos.
Acontece também da negritude representar o alerta do desequilíbrio social e preconceito racial contra uma etnia em nosso país dividido em fragmentos, como neste lindo trecho do poema Navio Noturno: "O navio noturno / Não aquele negreiro / A traçar a rota do sofrimento // Mas aquele da beleza / Dos versos plenos de magia // O navio noturno leva um alfabeto / De letras coloridas / Vagando na noite esperançosa / Dos segredos // Em que os versos / Não são feitos de fel e açoite / Mas da luminosidade vaga da lua / Que reflete o sol dos mistérios [...]".
A autora afirma a sua preferência pela noite em Fim?: " [...] a noite e o dia se intercambiam / são gêmeos em sua tessitura de / versos. Mas a noite, ah a noite, / deixa-me comovida como um / elemental que percorre as frestas / das palavras explodindo as pupilas / amaldiçoando o tempo / e levando o dia nas costas / como um ferido soldado de guerra." Assim é a poesia de Alexandra Vieira de Almeida, permeada por imagens surpreendentes e ideias originais, como nos três poemas abaixo: A negra cor das palavras, Tulipa negra e O pássaro negro.
Acontece também da negritude representar o alerta do desequilíbrio social e preconceito racial contra uma etnia em nosso país dividido em fragmentos, como neste lindo trecho do poema Navio Noturno: "O navio noturno / Não aquele negreiro / A traçar a rota do sofrimento // Mas aquele da beleza / Dos versos plenos de magia // O navio noturno leva um alfabeto / De letras coloridas / Vagando na noite esperançosa / Dos segredos // Em que os versos / Não são feitos de fel e açoite / Mas da luminosidade vaga da lua / Que reflete o sol dos mistérios [...]".
A autora afirma a sua preferência pela noite em Fim?: " [...] a noite e o dia se intercambiam / são gêmeos em sua tessitura de / versos. Mas a noite, ah a noite, / deixa-me comovida como um / elemental que percorre as frestas / das palavras explodindo as pupilas / amaldiçoando o tempo / e levando o dia nas costas / como um ferido soldado de guerra." Assim é a poesia de Alexandra Vieira de Almeida, permeada por imagens surpreendentes e ideias originais, como nos três poemas abaixo: A negra cor das palavras, Tulipa negra e O pássaro negro.
A NEGRA COR DAS PALAVRAS
A negra cor das palavras,
rasgando minha pele abismal
No sono dos mortais,
encontro a imortalidade da chama
que queima o corpo da manhã
Na noite dos apaixonantes véus,
o delírio do verso esférico
como a bola da lua em cristal de espumas
Não digo o verbo de espinhos
qual sangue que fere o tempo
Digo a palavra bruta
que tece os terçóis do sol
Na languidez do mapa,
o itinerário das negras letras
a faiscar um caminho para o Paraíso.
TULIPA NEGRA
Ela era a noite
Escondia-se do sol
Em momentos de lascívia
Na soturna espera dos sentidos
A cor adestrava a vagueza da letra morta
Era cor viva não tal qual sangue
Mas absoluta na sua morbidez de vida
Latejava as duplas montanhas da sorte
Em bebericar a lua numa espera de sol
O encontro era na caverna noturna dos corcéis
Que se atropelavam feito lendas de escorpião
A flor era o segredo da noite
A faiscar bolhas de palavras
Na pele, a sonolência do sol
A sombra desaparecia, pois não era resto
Era plenitude açoitada na fonte
No longínquo mapa do toque
A vastidão do fundo do mar
Em adentrar aquele rosto escuro da beleza
Em pleno despertar das coisas eternas.
O PÁSSARO NEGRO
Ele era o barulho do vazio,
se fazendo lenda no voo da violência
Livre pelo ar,
adocicava a natureza
com sua cor bendita
Rei entre os pássaros,
não se gabava de ser peão
mas imperava no meio da floresta
com seu canto de hinos e versos selvagens
Mas o homem que não era lenda,
só escória no meio do mundo
dispara o tiro mortal
em que o vermelho da dor
era o sublime cântico da vida.
Sobre a autora: Alexandra Vieira de Almeida é poeta, contista, cronista, resenhista e ensaísta. É Doutora em Literatura Comparada pela UERJ. Trabalha como professora na Secretaria de Estado de Educação (RJ) e tutora de ensino superior a distância na UFF. Publicou os primeiros livros de poemas em 2011, pela editora Multifoco: 40 poemas e Painel. Oferta é seu terceiro livro de poemas, pela Editora Scortecci (2014). Em 2016 publicou pela Penalux o livro de poesia Dormindo no verbo. Seu quinto livro de poesia, A serenidade do zero (Penalux, 2017), recebeu elogios de vários nomes importantes no cenário literário. A negra cor das palavras (Penlux, 2020) é o seu sexto e mais recente lançamento na área de poesia.
Onde encontrar o livro: Clique aqui para comprar A negra cor das palavras de Alexandra Vieira de Almeida
Comentários