Vicente Humberto - Abacates no caixote
Abacates no caixote é uma antologia que cobre trinta anos da produção poética do compositor e poeta mineiro Vicente Humberto em uma caprichada edição com imagens de obras de uma seleção de artistas plásticos, tais como: Carlos Scliar (1920-2001), Amilcar de Castro (1920-2002) e Antônio Poteiro (1925-2010), entre outros, compondo alguns poemas ilustrados. Outra curiosidade no livro é a apresentação da biografia do poeta em versos e, assim, ficamos sabendo que Vivente Humberto é engenheiro de Minas pela UFMG e graduado em Letras pela UFG, ou seja: "Oscilou como pêndulo / Entre a lida técnica / Engenharia / E a poesia".
A sinopse da editora recomenda ler em voz alta cada poema, pois eles nasceram orais. É verdade, mas também são o resultado de uma persistente busca da expressão que desnorteia e encanta o leitor, como em Autópsia (p. 14): "[...] Ah, se tudo fose tão belo, / Se tudo fosse tão belo / Feito o Castelo de Grayskull, / A equação de Laplace, / A Lemniscata de Bernoulli, / O caracol de Pascal." Ou ainda em Ophis (p. 30): "Sob a lente da serpente / Valei-me Valéry! / Resta a causa réptil / Cabeça, triângulo e cauda // Vibra a víbora sobre a relva, / Estrela binária a sua língua, / Singra o inferno para isto, / O paraíso mingua. [...]"
Na invejável simplicidade das construções perfeitas reside o ritmo e o lirismo dos versos do poeta. Seja no poema-carta para o falecido pai (Prece, p. 28), na singela declaração para a musa amada (Aniversário, p. 29) ou na linda homenagem à poesia (Colhendo letrinhas, p. 41), é sempre um prazer nos deparar com uma "chuva de andorinhas", deixo vocês com esses três exemplos da poesia madura de Vicente Humberto.
Prece(Para Vicente Paulo Cruz, meu pai)Se meu verso fosse capaz,Te traria de voltaE se ainda fosse capaz,Nunca mais deixaria você ir,Ou até se fosse capaz,Iria com vocêAniversário(para Jô)Com vocêDesaprendiA perceberO correr dos diasForam 20 anosOu foram vinte dias?Colhendo letrinhas(para Pio Vargas)Você chega, cheia de signos e conquista mansinho.Sorrateira vai impregnando seu mundo de vocábulosEm meu mundo de engenheiro.Depois, envolve meus cálculos frios no frio imensoDa angústia e da solidão.Irônica, convida para seu banquete de estrelasSe veste de ingênua e vai adultando em imagensDepois deita no chão e conta os aviões comigoCrava alfinetes de prata e esporas de cobre.Um a um foram tombando meus exércitosTodos novale dos suicidasE eu entre eles colhendo letrinhas.Vai, alma vadia,Penso nela e o verão anunciaUma chuva de andorinhasBorboletas no crepúsculo.
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