Os Sofistas
O meu amigo Quintanilha enviou mais um excelente texto sobre os filósofos gregos, desta vez sobre os criadores da retórica e oratória, conhecidos como Sofistas. A técnica do Sofismo é muito utilizada em nosso mundo "real" e, ainda hoje, desperta grande interesse. Segue o texto onde, na conclusão, é citado o paradoxo do advogado.
O ideal máximo da lógica é a coerência. A lógica foi sistematizada por Aristóteles, e se constituiu até o começo da idade moderna como matéria prima principal ao lado da teologia e da filosofia.
Aristóteles foi discípulo de Platão, que mantinha uma escola em Atenas denominada Academia. Ali, talvez, Platão o tenha levado a gostar das formas coerentes de pensamento, motivando-o a lógica. Contudo, Aristóteles só veio a elaborar seu sistema quando já estava afastado do mestre. Seus discípulos reuniram todos os seus trabalhos sob o título de Organon (Instrumento), como um meio de chegar à coerência do pensamento. Durante estes trabalhos, Aristóteles deparou-se com todo o acervo de pensamentos anteriores e ele e viu-se, então embaraçado com uma série de contradições, algumas aparentes e outras reais
Estas contradições tomaram vulto a partir dos sofistas. Diante disso, o filósofo reagiu elaborando o primeiro sistema lógico. Os Sofistas foram pensadores do século V a.C, e iam de cidade em cidade ensinando a troco de dinheiro. Ensinavam como atacar os adversários em juízo e como sair vencedor nas discussões. Nesta tarefa não se preocupavam com qualquer tipo de lógica.
A única regra era sair vitorioso. A propósito vejamos uma argumentação em juízo entre Protágoras e seu discípulo Euatlo. Protágoras havia combinado com Euatlo ensinar-lhe oratória mediante certa quantia, que seria paga da seguinte maneira: metade ao terminar a última lição e a outra metade quando discípulo tivesse ganho a primeira causa nos tribunais. Entretanto o pagamento restante ia-se prolongando. Protágoras começou a recear a não mais receber o que lhe era devido. Resolveu, por isto, levar o discípulo ao Tribunal.
Sua argumentação resume-se no seguinte:
“De qualquer maneira terá que pagar, pois se perder a causa, a decisão do Tribunal, é claro obrigá-lo-á a me pagar. Se, porém, ele ganhar a causa, terá que me pagar do mesmo modo por força do acordo que tem comigo. Em qualquer dos casos, portanto, Euatlho terá que saldar a dívida”
O velho sofista grego não contava com o aproveitamento didático do ex-discípulo que, diante do mestre, assim se defendeu:
“Se ganhar este processo, nada terei que pagar, porque é essa a decisão do Juiz. Se perder, nada terei que pagar, por que assim ficou estipulado no meu acordo com Protágoras. Em qualquer caso nada ficarei devendo”.
Em sua opinião, quem está sofismando, Protágoras ou Euatlo?
Comentários
Alguns afirmam q os advogados seriam os sofistas modernos, e se olharmos bem, faz sentido.
Outros, mais maldosos, dizem q a profissão está bem representada nos políticos. Aff
1 abraço
Adoro a lógica, quando estudei filosofia no colégio era a minha parte preferida, hoje tenho uma visão mais ampla.
Muito legal trazer os sofistas para nós!
Um grande abraço.
Relativa esta questão a interpretações diversas, pois se partirmos do princípio de que o aprendiz ao final da aprendizagem não concordasse mais com a lógica do aprendizado, poderia questionar o mestre do pagamento a uma quantia que não julgava mais ser procedente pagar, entretanto isto não o redime do compromisso assumido.
Vejo que o mundo caminha para essa mercantilização da aprendizagem... onde o capital não vem mais do produto do trabalho gerado, mas temos nosso intelecto como capital intelectual que poderá ser 'comercializado'.
Homem e objeto e confundem quando essa aprendizagem, como na época inaugural do sofismo, passa a ter um valor comercial.
Gostei muito do texto que abre a novas aprendizagens (ainda bem que estamos na grande rede e a cibercultura passa neste espaço).
Boa semana, amigos!
Nao falo absolutamente nenhuma palavra em latim, mas teu post sobre as contradicoes da retorica sofista, acabou me levando a folhear um velho dicionario que adoro chamado "Dicionario de Adagios e Principios Juridicos" de Antonio Simoes Correa. Edicao de 1959 da tradicional Livraria Ferin de Lisboa. Bom, para encurtar o assunto, encontrei alguns adagios interessantes...
Sobre contratos
Obscure dictum habetur pro non dictum - Tem-se por nao dito o que se disse obscuramente
Aliud pro alio invito creditore dari non potest - Nao se pode dar uma coisa por outra contra a vontade do credor.
Sobre ma fe (essa bem corruptivel!)
Ubi jus dubium, non inducitur mala fides - Onde o direito eh duvidoso nao se presume a ma fe.
Enfim, se puder folhear algum dia um desses dicionarios, voce encontrara coisas interessantissimas.
Grande abraco, Chico
Eu sei, eu sei, Kovacs, eu seria um advogado mediocre...
Ai veio um outro e mostrou que a logica so se garante se houver uma terceira instância, no caso, o juiz, que tem o poder de validar ou nao um raciocinio, de declara-lo logico ou ilogico. E quenao existe a imparcialidade do juiz. O mais imparcial julga o que é logico ou nao de acordo com seus valores, que sao valores relativos ( a sua posiçao, sua classe, seu povo, etc). Assim, o grande problema nao é a logica, isto é, a coerência interna do discurso mas a força que tera uma parte ou outra de fazer reconhecida essa coerência. Isto é, a força que valida o discurso como logico.
Ou sera que enrolei e misturei tudo?
Abraços
Eliana
Muito bom começar a fazer parte deste universo.
Muito embora vá ser escasso no início, pois eu ainda tenho que desenrolar esse carretel de 20 anos, aproveitando minhas noites para estudar.
Mas, quanto ao assunto dos Sofistas, apenas direi que na atualidade, a lógica e a coerência, nesse meio jurídico, é de quem tem o poder de exercê-la e pronto!
Agradeço também a dica do Chico. Vai ser ótimo ter um dicionário desse em casa.
Ótimo te encontrar nesse meio.
Abraços