Edward Thomas - Rain

Edward Thomas, formalmente conhecido como jornalista, crítico literário e autor de ensaios foi incentivado a escrever poesias pelo amigo e poeta americano Robert Frost (1874-1963) para quem desabafou, em uma de suas últimas cartas, o seguinte pensamento:
"I should like to be a poet just as I should like to live, but I know as much about my chances in either case, and I don't really trouble about either. Only I want to come back more or less complete ."
"Eu deveria gostar de ser um poeta, assim como deveria gostar de viver, mas eu conheço muito bem as minhas chances em qualquer dos casos, e eu realmente não me preocupo sobre ambos. Eu quero somente voltar mais ou menos completo."
Compreendemos, portanto, como fica clara neste contexto a origem da atmosfera melancólica do poema "Rain". Apesar da imagem tão desgastada da chuva na cultura clássica e também popular, é surpreendente o efeito ainda forte obtido nesta composição. Edward Thomas é normalmente classificado como um poeta da primeira grande guerra mundial (ver original manuscrito do poema aqui).
'Rain'
Rain, midnight rain, nothing but the wild rain
On this bleak hut, and solitude, and me
Remembering again that I shall die
And neither hear the rain nor give it thanks
For washing me cleaner than I have been
Since I was born into this solitude.
Blessed are the dead that the rain rains upon:
But here I pray that none whom once I loved
Is dying tonight or lying still awake
Solitary, listening to the rain,
Either in pain or thus in sympathy
Helpless among the living and the dead,
Like a cold water among broken reeds,
Myriads of broken reeds all still and stiff,
Like me who have no love which this wild rain
Has not dissolved except the love of death,
If love it be towards what is perfect and
Cannot, the tempest tells me, disappoint.
Edward Thomas
'Rain'
Rain, midnight rain, nothing but the wild rain
On this bleak hut, and solitude, and me
Remembering again that I shall die
And neither hear the rain nor give it thanks
For washing me cleaner than I have been
Since I was born into this solitude.
Blessed are the dead that the rain rains upon:
But here I pray that none whom once I loved
Is dying tonight or lying still awake
Solitary, listening to the rain,
Either in pain or thus in sympathy
Helpless among the living and the dead,
Like a cold water among broken reeds,
Myriads of broken reeds all still and stiff,
Like me who have no love which this wild rain
Has not dissolved except the love of death,
If love it be towards what is perfect and
Cannot, the tempest tells me, disappoint.
Edward Thomas
Comentários
"A arte de escrever é tão difícil quanto a arte de ler", como disse na matéria anterior...pois envolve o intrínseco, desafia o pensar...e pensar não é algo que possamos fazer constantemente, prazerosamente. Envolve novas leituras de mundo, novas perguntas se formam. Quem tem a chave?
"Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a fase neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta
pobre ou terrível que lhe deres:
trouxeste a chave?!"
(Carlos Drummonde de Andrade)
Voce tem razao, o Rain em particular eh marcante mesmo, ainda mais com tua introducao que me fez associar a chuva com uma metafora da guerra. “Solitario, indefeso em meio a vida e a morte, ouvindo a chuva sem dor ou simpatia...”
Obrigado. Chico.
Por associação de idéias chegamos também à seguinte e já clássica citação de Graciliano Ramos com o mesmo sentido:
"Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."
Acabamos saindo do contexto da postagem original, mas quem se importa...
MINARETE
Escalar
E chegar
No topo das palavras,
No cume de meus versos.
E de lá,
Sentada sobre
Alguma significação
Oca e medíocre
Rever o caminho percorrido,
E olhar o mundo calmamente.
E rir.
Do cume, do cúmulo,
Da abstração ensaiada.
Encerrada em singelas cadeias morfológicas.
Poemas;
Minaretes.
Em seus templos cálidos,
Sagrados e semânticos.
Esguias torres que perfuram o horizonte.
Guias de minha alma peregrina
Chamam-me à prece,
Ao poema de cada dia.
Montanhas.
De palavras.
Amontoadas
Agarram-se umas às outras,
Desesperadamente, sintaticamente.
Se vedes sentido nelas
E tua alma recolhe significações, saibas:
Es tu o poeta.
Eu apenas cá estou, sentada no cume destes versos
A rir solene e a entoar cantos;
Neste minarete
Chamado
Poema.
Carla Guedes
Há poemas que fazem essa magia de nos penetrar com suas forças invisíveis, inexplicáveis.
Bjs.
JU Gioli
Que poesia mais linda, principalmente se conhecendo o fim que ele teve.
Muito bela e oportuna esta postagem.
Abraços.