Um conto de Virginia Woolf

Literatura inglesa
Virginia Woolf - Foto de George C. Beresford - Getty Images

Azul e verde (1921)

Verde

Os dedos de vidro pendurados apontam para baixo. A luz, ao deslizar pelo vidro, derrama uma poça verde. O dia inteiro os dez dedos do lustre derramam verde no mármore. As penas dos periquitos seus gritos dissonantes cortantes lâminas de palmeiras verdes também; verdes agulhas reluzindo no sol. Mas não pára o duro vidro de gotejar sobre o mármore; sobre a areia do deserto as poças ficam suspensas; por elas cambaleiam camelos; as poças se assentam no mármore; juncos as margeiam; e ervas se grudam nelas; aqui e ali uma flor branca; o sapo salta por cima; de noite as estrelas são afixadas intactas. Aproxima-se a noite, e o verde, varrido pela sombra, vai para cima da lareira; a superfície enrugada do oceano. Não há navios chegando; as ondas a esmo balançam sob o céu vazio. A noite avança; das agulhas agora pingam traços de azul. O verde ficou de fora.

Azul

O monstro de nariz achatado surge na superfície e esguicha por suas rudes narinas duas colunas de água que, de um branco ardente no centro, ao redor se espalham numa orla de borrifos azuis. A tela preta do seu couro é riscada por pinceladas azuis. Enchendo-se de água pela boca e as narinas, pesado de tanta água ele afunda, e o azul se fecha sobre ele, a procurar por artes mágicas os seixos polidos dos seus olhos. Lançado à praia ei-lo que jaz, rude, obtuso, soltando escamas secas e azuis. O azul metálico delas mancha na praia o ferro enferrujado. São azuis as nervuras do barco a remo que afundou. Sob os sinos azuis rola uma onda. Mas é diferente o da catedral, frio, cheio de incenso, um azul desmaiado, com véus de madonas.

Virginia Woolf - Contos Completos - Editora Cosac Naify - Tradução de Leonardo Fróes.
  
Blue and Green (1921) 

Green 

The ported fingers of glass hang downwards. The light slides down the glass, and drops a pool of green. All day long the ten fingers of the lustre drop green upon the marble. The feathers of parakeets — their harsh cries — sharp blades of palm trees — green, too; green needles glittering in the sun. But the hard glass drips on to the marble; the pools hover above the dessert sand; the camels lurch through them; the pools settle on the marble; rushes edge them; weeds clog them; here and there a white blossom; the frog flops over; at night the stars are set there unbroken. Evening comes, and the shadow sweeps the green over the mantelpiece; the ruffled surface of ocean. No ships come; the aimless waves sway beneath the empty sky. It’s night; the needles drip blots of blue. The green’s out. 

Blue 

The snub-nosed monster rises to the surface and spouts through his blunt nostrils two columns of water, which, fiery-white in the centre, spray off into a fringe of blue beads. Strokes of blue line the black tarpaulin of his hide. Slushing the water through mouth and nostrils he sings, heavy with water, and the blue closes over him dowsing the polished pebbles of his eyes. Thrown upon the beach he lies, blunt, obtuse, shedding dry blue scales. Their metallic blue stains the rusty iron on the beach. Blue are the ribs of the wrecked rowing boat. A wave rolls beneath the blue bells. But the cathedral’s different, cold, incense laden, faint blue with the veils of madonnas.

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