Yasunari Kawabata - Kyoto

Literatura japonesa
Yasunari Kawabata - Kyoto - Editora Estação Liberdade - 256 páginas - Tradução de Meiko Shimon - Lançamento 2006.

O japonês Yasunari Kawabata (1899-1972), prêmio Nobel de literatura de 1968, é mais conhecido do público brasileiro pelo seu romance "A casa das belas adormecidas" em que trabalha com a estranha combinação de morte e sensualidade ao descrever um bordel no qual homens de idade avançada podem passar as noites com jovens virgens que dormem sob o efeito controlado de narcóticos. Lidando com a sexualidade, ou a perda da sexualidade, de um homem na idade madura, as descrições de Kawabata abordam de forma inusitada a perda da juventude e representam a busca de uma felicidade que não pode ser alcançada. "A casa das belas adormecidas" também inspirou o colombiano Gabriel Garcia Marques quando escreveu "Memória de minhas putas tristes" no qual aborda a impossível história de amor entre um ancião e uma menina de catorze anos.

Neste romance, lançado originalmente em 1962, a cidade de Kyoto, que foi a capital do Japão de 794 à 1868, é uma das protagonistas mais importantes e as descrições líricas dos eventos religiosos, costumes locais e belezas naturais da cidade são um legado cultural que o Japão ficou devendo a Kawabata. O livro narra a história de duas irmãs gêmeas, Chieko e Naeko, que foram separadas quando bebês e criadas em ambientes distintos. Chieko foi adotada por um comerciante tradicional de quimonos da área central de Kyoto e sua irmã Naeko ficou na aldeia de Kitayama, região montanhosa localizada na periferia da cidade. As duas, apesar de fisicamente idênticas, têm personalidades muito distintas por conta da influência do ambiente e da educação. Enquanto Chieko tem características de formação próprias dos jovens de classe média urbana, influenciados pela cultura ocidental, Naeko é mais sensível e amadurecida emocionalmente por conta da simplicidade da vida e do trabalho no campo.
“Os cedros da aldeia de Kitayama eram todos administrados por pequenos empresários. Contudo, nem toda família era dona de terra. Pelo contrário, poucos o eram. Chieko cogitava se seus pais também teriam sido empregados de alguma família proprietária. A própria Naeko dissera: ‘Estou trabalhando para...’ Tudo havia acontecido vinte anos antes. Chieko teria sido abandonada porque, na época, ter filhos gêmeos era considerado uma vergonha, além do que se acreditava na dificuldade de criá-los com saúde. Era possível que tivessem se preocupado também com os escassos rendimentos da família. Chieko esquecera de perguntar três coisas a Naeko. Por que abandonaram a ela e não a irmã? Quando ocorrera o acidente do pai, sua queda do alto do cedro? Naeko dissera ser ‘recém-nascida’ na época, no entanto... Havia dito também ter nascido na casa do avô materno, um lugar bem mais remoto do que a aldeia dos cedros. Nesse caso, qual seria o nome do lugar?”
No meu entendimento, os contrastes entre as duas irmãs gêmeas simbolizam o conflito entre a cultura tradicional e a modernização do Japão na época do pós-guerra. Kyoto foi um dos últimos trabalhos de Kawabata antes do suicídio em 1972, ele soube, com maestria, expressar a essência da mente japonesa, como destacado pela academia sueca ao premiá-lo com o Nobel de literatura.

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