Umas flores no meio do caminho - "Dia D"

Carlos Drummond de Andrade

Mais uma vez é chegado o momento de comemorar o aniversário do poeta Carlos Drummond de Andrade (1902 - 1987). O “Dia D” foi criado com este objetivo no ano passado em uma iniciativa do Instituto Moreira Salles, coordenada pelo poeta Eucanaã Ferraz e pelo jornalista Flávio Moura, co-curador da homenagem a Drummond na Flip 2012. Estão previstos diversos eventos em Brasília, Belo Horizonte, Itabira, Lisboa, Paraty, Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo.

Ausência
(Carlos Drummond de Andrade)

Por muito tempo achei que a ausência é falta. 

E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo. 
Não há falta na ausência. 
A ausência é um estar em mim. 
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, 
que rio e danço e invento exclamações alegres, 
porque a ausência, essa ausência assimilada, 
ninguém a rouba mais de mim.

Comentários

Anny disse…
Ah, que bom lembrar dele. Obrigada!
E este poema é uma pintura em palavra.

Bom fim de semana!
Anny.
Letícia Alves disse…
Drummond é muito bom!
Vamos lembrar sempre!
Grata pela lembrança!
Alexandre Kovacs disse…
Anny, obrigado pela visita!
Alexandre Kovacs disse…
Oi Letícia, obrigado por comentar!
Fernanda disse…
O poema Ausência aqui mencionado, foi feito por Drummond à também poeta Ana Cristina Cesar. No livro que tenho dela intitulado "Inéditos e Dispersos", tem o manuscrito original do poeta, no qual ele diz na dedicatória: "Com o pensamento em Ana Cristina". Aliás, um dos poemas dele que mais gosto, principalmente, porque capta a identidade inquieta e libertária da nossa poeta-suicida.

Sempre bom vir aqui!

Abraços,

Fernanda
nostodoslemos disse…
Infância
(A Abgar Renault)

Meu pae montava a cavallo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sosinho menino entre mangueiras
lia a historia do Robison Cruzoé,
comprida historia que não acaba mais.

No meio dia branco de lluz uma voz que aprendeu
a ninar nos longe da senzala - e nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.

Minha mãe ficava sentada cosenso
olhando para mim:
- Psiu... Não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro... que fundo!

Lá longe meu pae campeava
no matto sem fim da fazenda.

E eu não sabia que minha historia
era mais bonita que a do Robinson Cruzoé.


(Alguma Poesia - O livro em seu tempo - organização Eucanaã Ferraz)
Alexandre Kovacs disse…
Fernanda, se tiver tempo e interesse tenho essas postagens sobre Ana Cristina Cesar aqui no blog:

http://mundodek.blogspot.com.br/2008/08/ana-cristina-cesar.html

http://mundodek.blogspot.com.br/2007/03/sylvia-plath-ana-cristina-cesar.html#
Alexandre Kovacs disse…
Lígia, obrigado por comentar, esta poesia também é muito linda.
Fernanda disse…
Eu já vi estes links, gostei muito.;D

Minha dificuldade com Ana Cristina Cesar é encontrar o motivo do seu suicídio. Talvez porque ela não era tão entregue quanto a Sylvia.

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