Salman Rushdie - Haroun e o Mar de Histórias
Salman Rushdie - Haroun e o Mar de Histórias - Editora Companhia das Letras - 184 páginas - Lançamento no Brasil: 20/07/2010.
Um romance bem diferente de "Os filhos da meia-noite", vencedor dos prêmios Booker Prize e Best of Booker, e "Versos satânicos" que tornaram Salman Rushdie conhecido em todo o mundo devido à sua sentença de morte decretada pelo aiatolá Khomeini em 1989. Neste romance, porém, não há referência às crises políticas e diferenças religiosas contemporâneas. Aqui a narrativa é simples e espontânea como nas fábulas das 1001 noites, só que as situações são ainda mais fantasiosas e inverossímeis e com uma carga de humor sarcástico já bem conhecida dos leitores de Salman Rushdie.
Haroun quer muito ajudar o seu pai, Rashid Khalifa, a recuperar a habilidade de contador de histórias que foi misteriosamente perdida após a fuga da mãe com um vizinho. A famíla morava então em uma cidade triste na qual as fábricas produziam tristeza e Rashid era conhecido como o Xá do Blá-blá-blá devido à sua criatividade e facilidade de contar histórias, como no inspirado trecho abaixo que associa este dom com o serviço de propaganda política local (mas que serve como uma luva para descrever o exercício político no Brasil, por exemplo).
Um romance bem diferente de "Os filhos da meia-noite", vencedor dos prêmios Booker Prize e Best of Booker, e "Versos satânicos" que tornaram Salman Rushdie conhecido em todo o mundo devido à sua sentença de morte decretada pelo aiatolá Khomeini em 1989. Neste romance, porém, não há referência às crises políticas e diferenças religiosas contemporâneas. Aqui a narrativa é simples e espontânea como nas fábulas das 1001 noites, só que as situações são ainda mais fantasiosas e inverossímeis e com uma carga de humor sarcástico já bem conhecida dos leitores de Salman Rushdie.
Haroun quer muito ajudar o seu pai, Rashid Khalifa, a recuperar a habilidade de contador de histórias que foi misteriosamente perdida após a fuga da mãe com um vizinho. A famíla morava então em uma cidade triste na qual as fábricas produziam tristeza e Rashid era conhecido como o Xá do Blá-blá-blá devido à sua criatividade e facilidade de contar histórias, como no inspirado trecho abaixo que associa este dom com o serviço de propaganda política local (mas que serve como uma luva para descrever o exercício político no Brasil, por exemplo).
"Estavam chegando as eleições, e todos os Grandes Figurões de vários partidos políticos vinham procurar Rashid, sorrindo com aquela cara de gato gordo que eles têm, para lhe implorar que viesse contar histórias no seu comício, e não no comício de mais ninguém. Todos sabiam que quem conseguisse ter do seu lado a língua mágica de Rashid não teria mais problemas. Ninguém acreditava em nada do que os políticos diziam, mesmo quando eles faziam o maior esforço para fingir que estavam falando a verdade. (Aliás era assim que todo o mundo via que eles estavam mentindo.) Mas todo o mundo tinha uma fé absoluta em Rashid, pois ele sempre reconhecia que tudo aquilo que lhes contava era totalmente inverídico, inventado na sua própria cabeça." (pág. 14)Haroun descobre então que as histórias contadas pelo pai tinham origem no Mar de fios de Histórias, vindas de um mundo paralelo, localizado em uma segunda lua chamada Kahani, através de um sistema de tubulações mágico acionado por Iff, o Gênio da Água, tudo isso com base na tecnologia PCD+P/EX, ou seja, um Processo Complicado Demais para Explicar (bem que eu avisei que Rushdie exagera bastante na fantasia). Haroun parte para uma aventura neste mundo paralelo dividido entre os Gupis e os seus opostos, os temíveis Tchupwalas que pretendem eliminar o Mar de Histórias. Será que Haroun conseguirá ajudar o pai a resgatar o seu dom de contador de histórias?
"E assim Iff, o Gênio da Água, contou a Haroun sobre o Mar de fios de Histórias, e embora o garoto estivesse se sentindo fracassado e sem esperanças, a mágica daquele Mar começou a exercer um efeito sobre ele. Olhou para a água e reparou que ela era feita de milhares e milhares e milhares de correntes diferentes, cada uma de uma cor diferente, que se entrelaçavam como uma tapeçaria líquida, de uma complexidade de tirar o fôlego; e Iff explicou que aqueles eram os Fios de Histórias, e que cada fio colorido representava e continha uma única narrativa. Em diferentes áreas do Oceano havia diferentes tipos de histórias, e como todas as histórias que já foram contadas e muitas que ainda estavam sendo inventadas podiam-se encontrar aqui, o Mar de Fios de História era, na verdade, a maior biblioteca do universo. E como as histórias ficavam guardadas ali em forma fluida, elas conservavam a capacidade de mudar, de se transformar em novas versões de si mesmas, de se unir a outras histórias e assim se tornar novas histórias; de modo que, ao contrário de uma bibloteca de livros, o Mar dos Fios de Histórias era muito mais do que um simples depósito de narrativas. Não era um lugar morto, mas sim cheio de vida." (págs. 57 e 58).Uma grande brincadeira com as histórias que "não servem para nada", pois "nem ao menos são verdadeiras", homenagem de Salman Rushdie à literatura e também ao amor incondicional entre pai e filho. O romance foi dedicado ao filho do autor, com nove anos na época, mas certamente agradará aos leitores de todas as idades.
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