Israel: uma história - Anita Shapira
Israel: uma história - Anita Shapira - Editora Paz e Terra - 630 Páginas - Tradução de Debora Fleck e Samuel Feldberg - Lançamento: 18/06/2018.
Existe uma tendência simplificadora em alguns livros de história ao considerar a formação de Israel somente a partir do voto de partilha da ONU em novembro de 1947 quando, após o final da Segunda Guerra Mundial, foi aprovado o plano de divisão da Palestina em dois Estados, um judeu e outro árabe, ficando as áreas de Jerusalém e Belém sob controle internacional, e tendo sido a citada Resolução 181 das Nações Unidas apenas um resultado da influência da opinião pública mundial, como uma forma de reparação pelo Holocausto.
Anita Shapira, pesquisadora e professora da Universidade de Tel Aviv, apresenta neste livro a história da formação do Estado de Israel de uma forma bem mais abrangente e independente, desde o surgimento do movimento sionista na Europa até o final do século XX, sem evitar os aspectos mais polêmicos da eterna crise no Oriente Médio, como a questão moral de ter transformado os árabes, donos da terra, em uma minoria, causa raiz dos violentos conflitos com os refugiados palestinos nas áreas de ocupação e das guerras com os países árabes vizinhos que acompanharam a consolidação do território de Israel como o conhecemos hoje, mas também provocaram o crescimento das hostilidades contra o povo judeu.
Apesar da complexidade do tema, a autora consegue apresentar um texto informativo e ao mesmo tempo com um estilo acessível e extremamente cativante, que se lê como um romance, destacando não somente os fatores históricos, socioeconômicos e políticos, mas também os aspectos culturais presentes na criação da nação israelense, com citações de escritores, poetas e pensadores de diferentes correntes ideológicas, inclusive autores contemporâneos como Amós Oz e David Grossman. Infelizmente, como bem sabemos, é uma história que envolve constantes guerras e conflitos durante todo o século XX, sem uma solução a curto prazo.
Os primeiros assentamentos eram essencialmente agrícolas, esta conexão com a terra seria a melhor maneira de criar o direito de tomar posse da Palestina. Ocorre que os trabalhadores judeus, em sua maioria, não tinham esta identificação com a terra, mas sim experiência como artesãos ou comerciantes, sendo necessário portanto um esforço para a "conquista do trabalho" e a denominação de pioneiro, "uma pessoa que encarnava o ideal nacional no dia a dia, sacrificando-se em prol do sionismo". Hoje, o país tem uma economia industrializada e somente uma parcela reduzida da população economicamente ativa está envolvida com a agricultura.
Após a Resolução da ONU de 1947, iniciou-se um longo caminho para formação do Estado de Israel que implicaria não só uma guerra contra os árabes da Palestina, mas também contra as Forças Armadas de todos os países árabes. O primeiro conflito foi a "Guerra de Independência" para obtenção da soberania judaica. Na verdade, uma luta para libertar-se do mandato britânico, criado com a Partilha do Império Otomano após o final da Primeira Guerra Mundial, o que a transformaria em mais uma guerra anticolonial. No entanto, acabou se tornando o primeiro de muitos enfrentamentos entre dois povos, árabes e judeus, disputando a mesma terra.
Comprovando que a paz no Oriente Médio é muito difícil de ser obtida e mantida, a Guerra do Yom Kippur em 1973, apresentou resultados opostos à Guerra dos Seis Dias: "em lugar de uma vitória rápida e dramática, houve um grande número de baixas, perda de controle e avaliações equivocadas dos campos de batalha, disputas entre os generais e ausência de credibilidade." Esta foi a primeira guerra israelense da era da televisão, trazendo para os lares os horrores do front o que provocou muitos protestos da população. Outras guerras se seguiram na história de Israel, sem falar nos distúrbios constantes com os refugiados palestinos na Faixa de Gaza e Cisjordânia e a terrível Jihad (guerra santa) para exterminar os judeus.
Anita Shapira, pesquisadora e professora da Universidade de Tel Aviv, apresenta neste livro a história da formação do Estado de Israel de uma forma bem mais abrangente e independente, desde o surgimento do movimento sionista na Europa até o final do século XX, sem evitar os aspectos mais polêmicos da eterna crise no Oriente Médio, como a questão moral de ter transformado os árabes, donos da terra, em uma minoria, causa raiz dos violentos conflitos com os refugiados palestinos nas áreas de ocupação e das guerras com os países árabes vizinhos que acompanharam a consolidação do território de Israel como o conhecemos hoje, mas também provocaram o crescimento das hostilidades contra o povo judeu.
Apesar da complexidade do tema, a autora consegue apresentar um texto informativo e ao mesmo tempo com um estilo acessível e extremamente cativante, que se lê como um romance, destacando não somente os fatores históricos, socioeconômicos e políticos, mas também os aspectos culturais presentes na criação da nação israelense, com citações de escritores, poetas e pensadores de diferentes correntes ideológicas, inclusive autores contemporâneos como Amós Oz e David Grossman. Infelizmente, como bem sabemos, é uma história que envolve constantes guerras e conflitos durante todo o século XX, sem uma solução a curto prazo.
"Ao mesmo tempo que se fragilizava a segurança dos judeus na Europa Oriental, surgia o moderno antissemitismo na Europa Ocidental. O ódio aos judeus não era novidade, mas dessa vez estava marcado pelo racismo e pelo determinismo: seu objeto não era a religião, e sim a raça judaica. A religião pode ser trocada, a raça não; e, em uma era de crescente secularização, o ódio religioso poderia parecer algo pertencente ao passado, enquanto o racial era moderno e atual — expressava-se na linguagem do darwinismo científico. (...) O velho ódio ao judeu havia sido dirigido ao judeu diferente, estranho, enquanto o antissemitismo visava ao judeu que se parecia com qualquer um, falava o idioma local, tinha aparência e comportamento típicos da classe média, participava da cultura nacional e até mesmo ajudava a criá-la. Os antissemitas acusavam os judeus de serem a causa de todos os males da sociedade capitalista, de incitarem a Revolução e minarem a ordem existente. Descreviam os judeus como parasitas, incapazes de estabelecer uma cultura e sociedade próprias; aproveitando-se de outros povos, copiavam ou pervertiam as culturas alheias. Como os judeus eram incapazes de integrar-se de fato a uma cultura, suas criações culturais eram artificiais: nem autênticas, nem originais." - O surgimento do movimento sionista (Pág. 31)A fundação do primeiro assentamento na Palestina visando estabelecer uma base política judaica é datada de 1882, sendo que já no final da década de 1870 a população total era de 380.000, sendo 27.000 judeus. Ocorreram então ondas sucessivas de imigração, chamadas de Aliá (lit., Ascensão [à Terra Santa]), com base na "Lei do Retorno" que concede o direito de residência e cidadania a qualquer judeu, originário de qualquer país do mundo, que deseje emigrar para Israel: Primeira Aliá (1881-1904), Segunda Aliá (1904-1914), Terceira Aliá (1919-1923), Quarta Aliá (1924-1929), Quinta Aliá (1932-1936) e somente a sexta Aliá (1945-1948) após a Segunda Grande Guerra com os sobreviventes do Holocausto. Cada uma das ondas de imigração apresentou características próprias, sendo que as mais recentes ficaram conhecidas como a Aliá etíope e Aliá russa, durante as décadas de 1980 e 1990.
Os primeiros assentamentos eram essencialmente agrícolas, esta conexão com a terra seria a melhor maneira de criar o direito de tomar posse da Palestina. Ocorre que os trabalhadores judeus, em sua maioria, não tinham esta identificação com a terra, mas sim experiência como artesãos ou comerciantes, sendo necessário portanto um esforço para a "conquista do trabalho" e a denominação de pioneiro, "uma pessoa que encarnava o ideal nacional no dia a dia, sacrificando-se em prol do sionismo". Hoje, o país tem uma economia industrializada e somente uma parcela reduzida da população economicamente ativa está envolvida com a agricultura.
Após a Resolução da ONU de 1947, iniciou-se um longo caminho para formação do Estado de Israel que implicaria não só uma guerra contra os árabes da Palestina, mas também contra as Forças Armadas de todos os países árabes. O primeiro conflito foi a "Guerra de Independência" para obtenção da soberania judaica. Na verdade, uma luta para libertar-se do mandato britânico, criado com a Partilha do Império Otomano após o final da Primeira Guerra Mundial, o que a transformaria em mais uma guerra anticolonial. No entanto, acabou se tornando o primeiro de muitos enfrentamentos entre dois povos, árabes e judeus, disputando a mesma terra.
"Em 30 de novembro de 1947, os árabes provocaram confrontos que deflagraram a guerra entre as duas comunidades nacionais: um distúrbio maciço no novo centro comercial de Jerusalém, com saque e incêndio de lojas judaicas. (...) No primeiro mês de conflito, aproximadamente 250 judeus foram mortos — metade do total de vítimas judaicas do período da Revolta Árabe de 1936-1939. A capacidade árabe de lutar parecia séria, e seus recursos, ilimitados. (...) Até julho de 1948, os exércitos árabes tinham uma vantagem numérica, mas em pouco tempo o inexperiente Exército israelense conseguiu organizar-se e engajar tropas suficientes para superar o número de invasores. Na época, ninguém poderia saber que a sociedade palestina entraria em colapso, que os ingleses não interviriam, que os exércitos árabes possuíam uma capacidade limitada de luta e que havia uma enorme diferença entre a retórica e a realidade. (...) Essa guerra, a mais longa e mais difícil das guerras israelenses, estendeu-se de dezembro de 1947 a março de 1949, matando seis mil israelenses, quase 1% da população judaica." - A Guerra de Independência, 1947-1949 (Págs. 194 e 195)A Guerra dos Seis Dias (1967) marcou a vitória mais importante de Israel contra os países árabes, tanto devido ao número baixo de perdas, em comparação com outros conflitos armados, quanto em relação à área ocupada. "Israel entrou na guerra para derrotar o exército egípcio e abrir o Estreito de Tiran às embarcações israelenses. Terminou a guerra com controle absoluto sobre a Faixa de Gaza e a península do Sinai até o Canal de Suez." Além da vitória sobre o Egito, Israel anexou toda a Cisjordânia e as colinas de Golan em confrontos com a Jordânia e a Síria, respectivamente. No entanto, os resultados não garantiram a paz na região, muito pelo contrário. Poucos meses após esta guerra iniciaram-se ataques terroristas palestinos contra Israel e alvos israelenses no exterior, sendo o mais famoso o assassinato dos atletas israelenses mas olimpíadas de Munique, em 1972.
Comprovando que a paz no Oriente Médio é muito difícil de ser obtida e mantida, a Guerra do Yom Kippur em 1973, apresentou resultados opostos à Guerra dos Seis Dias: "em lugar de uma vitória rápida e dramática, houve um grande número de baixas, perda de controle e avaliações equivocadas dos campos de batalha, disputas entre os generais e ausência de credibilidade." Esta foi a primeira guerra israelense da era da televisão, trazendo para os lares os horrores do front o que provocou muitos protestos da população. Outras guerras se seguiram na história de Israel, sem falar nos distúrbios constantes com os refugiados palestinos na Faixa de Gaza e Cisjordânia e a terrível Jihad (guerra santa) para exterminar os judeus.
"A força dominante na Faixa de Gaza, onde os distúrbios haviam se iniciado, não era a OLP, mas um novo ator: o Hamas. O Hamas era o braço palestino da militante Irmandade Muçulmana, que surgira no Egito e almejava criar um grande Estado islâmico. A organização afirmava que o domínio de todos os infiéis, fossem judeus ou cristãos, estava destinado a extinguir-se. Chegado o dia, o controle sobre toda a Palestina seria transferido para os muçulmanos, e os judeus seriam eliminados. A visão de mundo do Hamas não contemplava um lugar para Israel no Oriente Médio, e sua propaganda estava repleta de mensagens antissemitas. (...) Durante a Intifada, o Hamas demonstrou que sua capacidade de luta e da prática do terrorismo era equivalente à da OLP, utilizando uma mistura de slogans nacionalistas e islâmicos." Os anos do impasse: identidade israelense em transformação 1984-1990 - A Intifada (Págs. 496 e 497)Independente da orientação política e ideológica do leitor, a obra é uma excelente sugestão na área de história e uma oportunidade para conhecer mais sobre a situação geopolítica do Oriente Médio e seus antecedentes, um tema sempre atual e importante.
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