Louise Glück - Prêmio Nobel de Literarura 2020

Nobel de Literatura 2020
Foto: Sigrid Estrada/AP

E, mais uma vez, a Academia Sueca surpreendeu ao anunciar a poeta norte-americana Louise Glück de 77 anos como Prêmio Nobel de Literatura 2020 "por sua inconfundível voz poética que, com beleza austera, torna universal a existência individual". Ela receberá 10 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 6,3 milhões). Até o momento sem livros traduzidos no Brasil, a autora é praticamente desconhecida por aqui.

Em 1993, Louise Glück levou o prêmio Pulitzer por seu livro "The wild iris" e o National Book Award, em 2014, por sua antologia "Faithful and Virtuous Night", em que o tema da morte é tratado de forma bem-humorada em memórias. Em 2016, ela recebeu a condecoração National Humanities Medal do então presidente dos EUA, Barack Obama.

Abaixo, dois poemas de Louise Glück traduzidos pela escritora, desenhista, pintora e tradutora Camila Assad, conforme matéria publicada hoje no portal G1:


A íris selvagem, Louise Glück


No final do meu sofrimento

havia uma saída.


Me ouça bem: aquilo que você chama de morte

eu me recordo.


Mais acima, ruídos, ramos de um pinheiro se movendo.

Então, nada. O sol fraco

cintilando sobre a superfície seca.


É terrível sobreviver

como consciência,

enterrada na terra escura.


Então tudo acabou: aquilo que você teme,

se tornando

uma alma e incapaz

de falar, encerrando abruptamente, a terra dura

se inclinando um pouco. E o que pensei serem

pássaros lançando-se em arbustos baixos.


Você que não se lembra

da passagem de outro mundo

eu te digo poderia repetir: aquilo que

retorna do esquecimento retorna

para encontrar uma voz:


do centro de minha vida veio

uma vasta fonte, azul profundo

sombras na água do mar azul.


ConfissãoLouise Glück


Dizer eu não sinto medo –

Não seria honesto.

sinto medo da doença, da humilhação.

Como todo mundo, tenho os meus sonhos.

Mas aprendi a escondê-los,

Para me proteger

Da realização: toda felicidade

Atrai a fúria das Sinas.

Elas são irmãs, selvagens –

No final, não há

Emoção, mas inveja.


As escolhas da Academia Sueca são normalmente polêmicas e não agradam à maioria dos leitores. Posso destacar alguns nomes como António Lobo Antunes (Portugal), Javier Marías (Espanha), Mia Couto (Moçambique) ou Lygia Fagundes Telles (Brasil) que, no meu entendimento, seriam melhores representantes de um legado literário universal. 

A premiação é concedida anualmente desde 1901 e considera o conjunto da obra de um autor vivo (infelizmente Philip Roth e Amós Oz já não podem ser considerados), muitas vezes com uma orientação fortemente política ou mesmo questionada pela comunidade literária internacional, como foi o caso da escolha de Bob Dylan em 2016.

No ano passado, a polonesa Olga Tokarczuk e o dramaturgo austríaco Peter Handke foram os agraciados com o Nobel de Literatura de 2018 e 2019, respectivamente. Depois de "pular" um ano em decorrência dos escândalos de assédio sexual e vazamento de informações, a Academia divulgou dois vencedores de uma só vez.

Onde encontrar os livros de Louise Glück (edições em inglês): The wild irisFaithful and Virtuous Night

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