Caio Garrido - Marés

Poesia brasileira contemporânea
Caio Garrido - Marés - Editora Folheando - 144 Páginas - Capa de Gyzelle Góes - Lançamento: 2023.

O livro de poemas de Caio Garrido está dividido em quatro partes: Estuário, Terra em Transe, Maré Alta e Mar Aberto. Os versos nascem a partir da antiga pretensão do homem em compreender a vida e a morte, essa impossibilidade que fica tão evidente quando nos deparamos com a imensidão do oceano ou ainda quando percebemos a fugacidade da memória, como declara o poeta: "Toda vida é sempre a dor de não encontrar / o caminho de volta" ou na sequência: "Na mata virgem / pisamos pela primeira vez / e nos impressionamos / ao repente / com o fato de sermos tão sós / tal pássaro sem voz // Voltamos com a certeza / de que toda juventude / foi embora — / no primeiro passo".

As ondas e os ventos são a inspiração e o ritmo que Garrido busca com seus poemas: "Vontade de chorar / A água salgada é sincera // A mulher é bela / em qualquer lugar // Mas só no mar / É aquarela". E, no final, nos resta a simplicidade da arte que desafia a estupidez humana em destruir o mar. Tudo isso me faz lembrar a poesia feita de imagens da portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen: "A terra o sol o vento o mar / São minha biografia e são meu rosto". Deixo vocês com alguns poemas de Caio Garrido.

Não há água em Marte

Não há água em Marte
E até seria bom,
sem luz em São Sebastião,
se não fosse a chuva um mar,
o sol atenção.
Não há rios em Mariana,
está mais triste que o Sertão

Vejo crianças na Síria
jogando sem bola
vê como há água e história
quando me olham
lá no fundo, dá pra ver
paz, alegria e glória

Não há água em Marte
Existo na Terra
Insisto nessa embarcação
abençoado asilo da memória

Refugiados

Sem linha sem trem
Ser passageiros, não mais
(e de existir, não deixam)
pra sempre, em frente, lentos

Com ou sem lenços

O mar
não hesitaria
— em engolfá-los
enfim engoli-los

Não podem dormir
ao relento

O que os salvou
foi a chuva
e o vento

Serena morte

Nona, preciso que jogue
No padre água benta

amanse o coração do tempo

Como pode a tarde abençoada
baixar cabeça
e fazer a siesta

no preciso momento
do fugaz entendimento

Literatura brasileira contemporânea
Sobre o autor: Caio Garrido é psicanalista e escritor. Mestre em Ciências da Saúde da Unifesp, com o tema dos sonhos (sonhos noturnos a partir da Psicanálise). Foi editor geral de Revistas de Psicanálise). Tem seis livros publicados, entre romances, poemas, crônicas e textos de não-ficção, entre eles: "Parapeito" (2013, Ed. Patuá), "O Bom Cristão" (2018, Ed. Patuá) e "Paniricocrônicas: Crônicas dos Sonhos em Tempos de Pandemia" (2021, Ed. Patuá), obra contemplada pelo programa ProAC (da Secretária de Cultura do Estado de SP). Lançou em 2022 o livro em coautoria com Fábio Zuccolotto, chamado "A Nova Era Tecnológica: Redes sociais, Inteligência Artificial & Realidade Virtual", de viés psicanalítico e social pela Editora Letramento.

Onde encontrar o livro: Clique aqui para comprar Marés de Caio Garrido




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