Ernesto Sabato - El escritor y sus fantasmas
Sabato comenta sobre a inutilidade de uma "literatura nacional" já que em autores como Kafka (e ele próprio, diga-se de passagem) não conseguimos identificar elementos nacionalistas, mas sim universais. Adicionalmente, considera impossível uma literatura sem a influência cultural européia porque, segundo ele, não existe uma originalidade absoluta, Faulkner vem de Joyce, Huxley, Balzac e Dostoiévski. Há páginas em O Som e a Fúria que parecem plagiadas de Ulisses. Sem falar da cultura negra americana que soube criar, à partir da herança anglo-saxã, toda a música moderna que fazemos hoje no mundo.
Algumas ideias de Ernesto Sabato: "O romance é um gênero impuro por excelência. Resiste a qualquer explicação e extrapola todas as limitações". "O fanatismo é a essência do criador, é preciso ter uma obsessão fanática, nada deve antepor-se a sua criação, deve sacrificar qualquer coisa a ela. Sem esse fanatismo nada de importante pode ser feito". "Nos últimos tempos foram feitas inúmeras tentativas para se transpor o livro para a técnica cinematográfica, mas obras de Proust, Virginia Woolf ou Faulkner são essencialmente literárias e irredutíveis a qualquer outro meio de expressão". Concordando ou não com Sabato vale a pena conhecer os pontos de vista de um dos maiores escritores contemporâneos.
Existe uma edição antiga em português da Editora Companhia das Letras, "O Escritor e Seus Fantasmas", traduzido por Pedro Maia Soares e publicada em 2003.
Comentários
Uau!!!
Imagino que seja preciso uma agudeza profunda, algo como a coragem ou destemor para se propor estas questões levantadas. E na mesma medida, sentir como a lâmina em brasa, em torniquete, cravando a carne, varando o peito - É o que equivale às perguntas e suas possíveis respostas.
Assim, a escrita enquanto veículo de mediação (um elo, talvez?). Mas nos atentemos não a escrita-objeto, e sim a pergunta seria quem seria (?) o Sujeito. Posto desta forma,podemos chegar ao núcleo da questão. E já não interessa reproduzir o que quer que seja - Mas para isto, também é necessário assumir a gravitação no limbo, ou melhor, no vácuo.
Então aí se poderia pensar numa ficção como entidade reprodutória? Num mero simbolismo? Não porque seria relegar a escrita a um mero escafandro. Mas, partindo da Escrita enquanto entidade autônoma numa própria existência que tem sua cosmologia e ATENDE a si mesma, então o termo ficção pérderia o sentido - já que, neste cosmo ela é sujeito, objeto e predicado.
E dispensa, inclusive, o autor. Passa a se bastar: Tem seu bojo, seu universo e sua gravidade. O hostil, nisso tudo, é que a Vida seria acessório. Ou predicado. E estranhamente, Sujeito às avessas.
...
Concordo com S. sobre essas coisas de nacionalismos. Acho que só existe o humano. Aquilo que se chama de nacionalismo é como uma roupagem, da mesma maneira que uma árvore (vegetação) tem suas características próprias quando no deserto, na savana ou no gelo. Muda a configuração mas a raiz é a mesma: tundra, arbusto, savana...
beijo
Ótima dica, vai para a lista.
citando:
«As modas são legítimas nas coisas menores, como o vestuário. No pensamento e na arte, são abomináveis»
«Viver consiste em construir recordações futuras»