Martin Puchner - O Mundo da Escrita
Martin Puchner - O Mundo da Escrita: Como a literatura transformou a civilização
Editora Companhia das Letras - 488 Páginas - Tradução de Pedro Maia Soares
Lançamento: 17/05/2019
Martin Puchner, professor de literatura comparada da Universidade de Harvard, apresenta uma descrição apaixonada da literatura e da sua evolução ao longo do tempo por meio de alguns textos fundamentais da história da civilização: A Epopeia de Gilgamesh (2.1000 a.C.), Ilíada e Odisseia de Homero (800 a.C.), Romance de Genji de Murasaki Shikibu (1.000 d.C.), Dom Quixote de Cervantes (1605 d.C.) e muitos outros. O autor demonstra como a palavra escrita ajudou a construir este mundo globalizado como o conhecemos hoje, "um mundo em que conversamos rotineiramente com vozes do passado e imaginamos que podemos nos dirigir aos leitores do futuro". Das escrituras sagradas da Bíblia até o Manifesto do Partido Comunista de Marx e Engels, uma viagem fascinante e sem preconceitos pelo universo dos livros.
Neste momento em que vivemos uma nova revolução tecnológica nos processos de escrita e leitura, utilizando os nossos tablets e celulares de última geração, curiosamente retornamos no tempo a um procedimento de rolagem de texto como nos antigos rolos de papiro, sem falar nos ícones do tipo emoji que nos remetem ao processo de escrita por hieróglifos como no antigo Egito. Nesta confusão entre forma e conteúdo, Martin Puchner nos chama a atenção para uma constatação óbvia, mas normalmente menosprezada: "um texto precisa permanecer relevante o suficiente para ser traduzido, transcrito, transcodificado e lido pelas gerações para persistir ao longo do tempo. É a educação, e não a tecnologia, que vai assegurar o futuro da literatura."
Outra abordagem do autor é a influência política dos livros, para o bem e para o mal, principalmente quando foi exercido o controle sobre a impressão, por exemplo nos Estados totalitários como a União Soviética e a Alemanha nazista. No período de maior crescimento do regime nazista, Mein Kampf tornou-se o título de maior sucesso na Alemanha com 1031 edições e 12,4 milhões de exemplares publicados (o livro mais não lido da história segundo Martin Puchner). Já na União Soviética, durante o governo de Stálin, a poeta Anna Akhmátova precisava memorizar os seus poemas e transmiti-los oralmente para um grupo de amigas, posteriormente esses poemas e outros textos de autores perseguidos, como Alexander Soljenítsin, foram divulgados em uma publicação clandestina denominada "samizdat".
Um livro de caráter enciclopédico, mas que se lê com muita facilidade e prazer, tanto pelos amantes da literatura quanto por aqueles interessados em história de uma forma geral. É um fato peculiar que este lançamento tenha sido inspirado por um curso sobre literatura universal, "Masterpieces of World Literature", para estudantes em Harvard e em outros 155 países, graças à nova tecnologia de educação on-line, o que comprova que, depois de 4 mil anos de história, testemunhamos agora uma novíssima transformação dos meios de divulgação do conhecimento e da escrita.
No entanto, precisamos ter atenção redobrada na questão do conteúdo, se por um lado a facilidade de autopublicação nas diversas plataformas eletrônicas e redes sociais transforma todos os leitores em potenciais escritores, esta produção nem sempre se traduz em qualidade literária, como bem sabemos. Enfim, por essa e outras questões, O Mundo da Escrita é uma recomendação que não deve faltar na sua biblioteca, seja ela digital ou impressa.
Neste momento em que vivemos uma nova revolução tecnológica nos processos de escrita e leitura, utilizando os nossos tablets e celulares de última geração, curiosamente retornamos no tempo a um procedimento de rolagem de texto como nos antigos rolos de papiro, sem falar nos ícones do tipo emoji que nos remetem ao processo de escrita por hieróglifos como no antigo Egito. Nesta confusão entre forma e conteúdo, Martin Puchner nos chama a atenção para uma constatação óbvia, mas normalmente menosprezada: "um texto precisa permanecer relevante o suficiente para ser traduzido, transcrito, transcodificado e lido pelas gerações para persistir ao longo do tempo. É a educação, e não a tecnologia, que vai assegurar o futuro da literatura."
"[...] A revolução do alfabeto, iniciada no Oriente Médio e na Grécia, facilitou o domínio da escrita e ajudou a aumentar as taxas de alfabetização. A revolução do papel, iniciada na China e prosseguida no Oriente Médio, reduziu o custo da literatura e, assim, mudou sua natureza. Também preparou o cenário para a revolução da impressão, que começou no Leste Asiático e, centenas de anos depois, se espalhou para o norte da Europa. Houve revoluções menores, como a invenção do pergaminho, na Ásia Menor, e do códice, em Roma. Nos últimos 4 mil anos, houve alguns momentos em que as novas tecnologias transformaram radicalmente a literatura. [...] Está claro que nossa atual revolução tecnológica está lançando para nós, a cada ano, novas formas de escrever, de e-mails e e-readers a blogs e tuítes, mudando não só o modo como a literatura é distribuída e lida, mas também como é escrita, à medida que os autores se ajustam a essas novas realidades. Ao mesmo tempo, alguns dos termos que começamos a usar recentemente parecem momentos anteriores da longa história da literatura: como os antigos escribas, estamos cada vez mais desenrolando textos e sentando curvados sobre tabuletas. Como compreender essa combinação de velho e novo?" (p. 20)É claro que a tradição oral foi essencial para a formação de alguns textos fundamentais como é o caso da Ilíada e Odisseia de Homero. Existem semelhanças entre alguns textos fundadores de muitas escolas filosóficas e religiões modernas que tomaram como base os ensinamentos transmitidos oralmente por mestres como Buda, Confúcio, Sócrates e Jesus, ideias registradas posteriormente por discípulos, que permitiram a distribuição e perpetuação do conhecimento. De fato, o judaísmo, cristianismo e islamismo, tem como base escrituras sagradas, muitas vezes sujeitas a um efeito de "fundamentalismo textual que se baseia em duas suposições contraditórias: uma sustenta que os textos são imutáveis e fixos, a outra reconhece que eles precisam ser interpretados, mas restringe a um grupo exclusivo a autoridade para fazê-lo".
"O nome de um cantor, Homero, tornou-se famoso (embora nem tenhamos certeza de que tenha existido um cantor com esse nome), mas desconhecemos o nome do talentoso escriba que registrou no papiro a história da guerra de Troia. E, no entanto, foi sua colaboração que tornou a versão de Homero excepcional. Uma vez que o escriba anônimo anotou a versão de um cantor, uma vez que a Ilíada não foi montada por diferentes escribas e diferentes cantores ao longo de muitas gerações, o resultado foi muito mais coerente que o de outras escrituras, como a Bíblia hebraica. Ressalte-se que, no mundo da Ilíada, com uma única exceção, não há descrição da escrita: a epopeia apresenta-se como sendo cantada, em vez de escrita. A Ilíada e o alfabeto grego, um alfabeto baseado no puro som, constituíam uma combinação poderosa, e juntos teriam consequências de longo alcance. Em algumas centenas de anos, a Grécia tornou-se a sociedade mais letrada que o mundo já conhecera, testemunhando uma extraordinária explosão de literatura, teatro e filosofia." (p. 38)Voltando o foco para a literatura, Martin Puchner analisa um clássico de todos os tempos, "O livro das mil e uma noites" que compreende uma variedade de contos populares e fábulas de cunho moral do Oriente Médio e do Sul da Ásia, compiladas em língua árabe desde o século IX e reunidos em uma única história, narrada por uma das protagonistas mais interessantes já imaginadas, a inteligente Scheherazade que devia contar novas histórias todas as noites, interrompendo cada conto ao amanhecer para continuá-lo na noite seguinte, o que a manteria viva ao longo de muito tempo. O uso do papel transformou a literatura no mundo árabe porque era muito mais fácil de ser produzido do que o papiro ou o pergaminho. Portanto, reduziu o custo de produção e isto foi perfeito para a divulgação do "livro das mil e uma noites".
Outra abordagem do autor é a influência política dos livros, para o bem e para o mal, principalmente quando foi exercido o controle sobre a impressão, por exemplo nos Estados totalitários como a União Soviética e a Alemanha nazista. No período de maior crescimento do regime nazista, Mein Kampf tornou-se o título de maior sucesso na Alemanha com 1031 edições e 12,4 milhões de exemplares publicados (o livro mais não lido da história segundo Martin Puchner). Já na União Soviética, durante o governo de Stálin, a poeta Anna Akhmátova precisava memorizar os seus poemas e transmiti-los oralmente para um grupo de amigas, posteriormente esses poemas e outros textos de autores perseguidos, como Alexander Soljenítsin, foram divulgados em uma publicação clandestina denominada "samizdat".
Um livro de caráter enciclopédico, mas que se lê com muita facilidade e prazer, tanto pelos amantes da literatura quanto por aqueles interessados em história de uma forma geral. É um fato peculiar que este lançamento tenha sido inspirado por um curso sobre literatura universal, "Masterpieces of World Literature", para estudantes em Harvard e em outros 155 países, graças à nova tecnologia de educação on-line, o que comprova que, depois de 4 mil anos de história, testemunhamos agora uma novíssima transformação dos meios de divulgação do conhecimento e da escrita.
No entanto, precisamos ter atenção redobrada na questão do conteúdo, se por um lado a facilidade de autopublicação nas diversas plataformas eletrônicas e redes sociais transforma todos os leitores em potenciais escritores, esta produção nem sempre se traduz em qualidade literária, como bem sabemos. Enfim, por essa e outras questões, O Mundo da Escrita é uma recomendação que não deve faltar na sua biblioteca, seja ela digital ou impressa.
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