Chico Buarque - Essa gente
Chico Buarque - Essa gente - Editora Companhia das Letras - 200 Páginas - Capa e projeto gráfico de Raul Loureiro - Lançamento: 09/11/2019.
O lançamento do sexto romance de Chico Buarque ocorre no ano em que o cantor, compositor, poeta e escritor se consagrou ao receber o Prêmio Camões, uma das distinções mais importantes da área de literatura em língua portuguesa. Essa gente vai surpreender o público pela linguagem simples e ritmo veloz, características pouco comuns nas obras anteriores do autor, normalmente de estrutura narrativa mais formal. O livro é constituído por blocos de texto na forma de entradas de diário, alternando cartas e mensagens, diálogos e trechos de conversas telefônicas, no período entre dezembro de 2016 e setembro de 2019.
Ao focar a ação no tempo presente, o autor corre o risco de assumir uma literatura panfletária em função da atual tendência de polarização política, uma vez que Chico Buarque é um dos alvos prediletos da direita, contudo, no final, ganha o leitor ao se reconhecer nessa gente que vive na caótica cidade do Rio de Janeiro, entre a praia e a favela, em situações nas quais o absurdo da realidade cotidiana supera a ficção mais delirante. O protagonista, Manuel Duarte, é um escritor decadente que atravessa um período de bloqueio criativo, além da crise financeira e emocional depois da segunda separação. No seu impasse existencial, ele tenta convencer o editor a adiantar alguns royalties pelo livro que não está conseguindo escrever.
O lançamento do sexto romance de Chico Buarque ocorre no ano em que o cantor, compositor, poeta e escritor se consagrou ao receber o Prêmio Camões, uma das distinções mais importantes da área de literatura em língua portuguesa. Essa gente vai surpreender o público pela linguagem simples e ritmo veloz, características pouco comuns nas obras anteriores do autor, normalmente de estrutura narrativa mais formal. O livro é constituído por blocos de texto na forma de entradas de diário, alternando cartas e mensagens, diálogos e trechos de conversas telefônicas, no período entre dezembro de 2016 e setembro de 2019.
Ao focar a ação no tempo presente, o autor corre o risco de assumir uma literatura panfletária em função da atual tendência de polarização política, uma vez que Chico Buarque é um dos alvos prediletos da direita, contudo, no final, ganha o leitor ao se reconhecer nessa gente que vive na caótica cidade do Rio de Janeiro, entre a praia e a favela, em situações nas quais o absurdo da realidade cotidiana supera a ficção mais delirante. O protagonista, Manuel Duarte, é um escritor decadente que atravessa um período de bloqueio criativo, além da crise financeira e emocional depois da segunda separação. No seu impasse existencial, ele tenta convencer o editor a adiantar alguns royalties pelo livro que não está conseguindo escrever.
Rio, 30 de novembro de 2018 / "Meu caro, Não pense que me esqueci das minhas obrigações, muito me aflige estar em dívida com você. Fiquei de lhe entregar os originais até o fim de 2015, e lá se vão três anos. Como deve ser do seu conhecimento, passei ultimamente por diversas atribulações: separação, mudança, seguro-fiança para o novo apartamento, despesas com advogados, prostatite aguda, o diabo. Não bastassem os perrengues pessoais, ficou difícil me dedicar a devaneios literários sem ser afetado pelos acontecimentos recentes no nosso país. Já gastei o advance que você generosamente me concedeu, e ainda me falta paz de espírito para alinhavar os escritos em que tenho trabalhado sem trégua. Sei que é impróprio incomodá-lo num momento em que a crise econômica parece não ter arrefecido conforme se esperava. Estou ciente das severas condições do mercado editorial, mas se o amigo puder me adiantar mais uma parcela dos meus royalties, tratarei de me isolar por uns meses nas montanhas, a fim de o regalar com um romance que haverá de lhe dar grandes alegrias. Um forte abraço." (p. 5)O romance é uma mistura de sátira de costumes, farsa tragicômica e crítica social, como é o caso do pastor evangélico ligado a um maestro italiano que castra meninos pobres para que se tornem cantores liricos ou a banalização da violência que faz com que a população considere normal – e até mesmo incentive – as frequentes ações policiais com mortes. O nosso protagonista presencia muitos desses eventos nas suas caminhadas pelo bairro do Leblon, enquanto tenta encontrar a inspiração ou algum dinheiro para escapar do despejo anunciado.
20 de fevereiro de 2019 / "Há manhãs em que desço as persianas para não ver a cidade, tal como outrora recusava encarar minha mãe doente. Sei que às vezes o mar acorda manchado de preto ou de um marrom espumoso, umas sombras que se alastram do pé da montanha até a praia. Sei dos meninos da favela que mergulham e se esbaldam no esgoto do canal que liga o mar à lagoa. Sei que na lagoa os peixes morrem asfixiados e seus miasmas penetram nos clubes exclusivos, nos palácios suspensos e nas narinas do prefeito. Não preciso ver para saber que pessoas se jogam de viadutos, que urubus estão à espreita, que no morro a polícia atira para matar. Apesar de tudo, assim como venero a mulher incauta que me deu à luz, estarei condenado a amar e cantar a cidade onde nasci. [...]" (p. 48)Apesar do tom bem-humorado, o livro provoca um desconforto permanente ao nos colocar frente a frente com o fantasma da solidão, sempre assustador quando visto assim de perto. Certamente, o final que confunde mais do que explica irá provocar muita polêmica, mas não é isso que se espera de toda obra de arte? Ponto para Chico Buarque, novamente.
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