William Shakespeare - A tragédia de HAMLET, príncipe da Dinamarca

Clássicos da literatura
William Shakespeare - A tragédia de HAMLET, príncipe da Dinamarca - Tradução de Leonardo Afonso - Edito
ra Chiado - 244 Páginas - Coleção Bastidor - Composição gráfica de Rui Revez - Capa de Isa Afonso - Lançamento: Abril, 2020. 

O legado do poeta, dramaturgo e ator inglês William Shakespeare (1564-1616) é fundamental não apenas para as artes e a literatura inglesa, mas representa também uma grande influência para a cultura mundial, encenado e publicado em vários idiomas, está sempre originando novas adaptações para o teatro, cinema ou referências em diversas áreas da atividade humana, inclusive na psicanálise. 

Segundo o renomado crítico Harold Bloom (1930-2019), um dos seguidores da "bardolatria", mais do que uma força da natureza, o mestre William Shakespeare é a própria natureza: 

"Em Shakespeare, não temos um sábio, nem um crente, mas uma consciência tão vasta que não tem, em absoluto, concorrente: seja em Cervantes ou Montaigne, em Freud ou Wittgenstein. Aqueles que escolhem uma das religiões do mundo, ou por elas são escolhidos, frequentemente postulam uma consciência cósmica à qual atribuem origens sobrenaturais. Mas a consciência shakespeariana, que transforma matéria em imaginação não precisa violar a natureza. A arte shakespeariana é a própria natureza e a consiência de Shakespeare mais parece produto do que produtora dessa arte." (Gênio, os 100 autores mais criativos da história da literatura - Harold Bloom - p. 36)

Considerada como uma das "quatro grandes tragédias" de Shakespeare, juntamente com Rei Lear, Macbeth e Otello, Hamlet é situada na Dinamarca e, resumidamente, trata da vingança do príncipe Hamlet depois da morte de seu pai, Hamlet, o rei, executado por seu irmão Cláudio, que o envenenou e em seguida usurpou o trono casando-se com a rainha Gertrude. Uma obra "caleidoscópica" como bem definiu Leonardo Afonso, mestre e doutorando em Linguística da Unicamp, que trabalhou ao longo de dez anos nesta tradução:

"A peça, caleidoscópica inclui ainda uma série de temas, que vão do mítico ao psicológico ao metalinguístico e ao metafísico, os quais foram diligentemente explorados em séculos de tratados e artigos, e através de diferentes ênfases em suas montagens e adaptações. Estas, cabe acrescentar, costumam efetuar significativos cortes ao texto integral, que tem em torno de trinta mil palavras, sendo boa parte delas do protagonista, o qual faz sete solilóquios e é o mais extenso papel de todas as peças de Shakespeare." (Introdução - p. 11)

A tradução de qualquer obra é sempre um desafio, ainda mais quando se trata de uma peça composta entre 1599 e 1601, em sua maior parte "em versos brancos, no metro usual do poeta, o pentâmetro iâmbico (cinco pés de sílaba fraca e sílaba forte)". O tradutor,  decidiu manter esta versão completa em prosa, com exceção dos poemas e canções, em uma linguagem conservadora, mas não arcaica, o que resultou em um texto mais acessível ao grande público. 

Considero que esta edição é uma ótima oportunidade para um primeiro contato com a obra de Shakespeare, com notas que esclarecem referências literárias ou mitológicas, assim como explicações sobre jogos semânticos como trocadilhos, impossíveis de se preservar na tradução. Adicionalmente, uma introdução concisa ajuda o leitor a compreender o contexto da época e outros dados históricos sobre a vida de William Shakespeare e sua obra imortal.

"Ser ou não ser, eis a questão: será mais nobre na mente sofrer as pedras e setas da Fortuna enfurecida ou tomar de armas contra um mar de provações e em oposição pô-las a termo? Morrer, dormir, não mais, e supor que com um sono eliminemos a dor no coração e as mil mazelas naturais de que a carne é herdeira: é uma consumação a ser devotamente desejada. Morrer, dormir... Dormir! Porventura sonhar; sim, eis o problema, já que nesse sono mortal os sonhos que possam sobrevir; quando já desembaraçados deste turbilhão da existência, devem fazer-nos hesitar: eis o respeito que dá vida tão longa à calamidade, pois quem suportaria o açoite e o escárnio do tempo, o agravo do opressor, a contumélia do orgulhoso, as chagas do amor desprezado, o tardar da lei, a insolência da autoridade e as esporadas que o mérito paciente de pulhas recebe, quando ele próprio poderia sua quitação lavrar com uma mera adaga? Quem fardos carregaria, grunhindo e suando sob uma vida fatigante, não fosse que o pavor de algo após a morte – a terra indescoberta de cujas raias viajor algum retorna – confunde o arbítrio, e faz-nos antes suportar as dores que temos que fugir a outras as quais ignoramos? Assim faz a consciência de todos nós covardes, e assim o matiz saudável da determinação é acometido do pálido verniz da cogitação, e empresas de grande vigor e importância, com tal consideração, seus cursos desviam-se do rumo, e perdem o nome de ação. Cala-te agora! A bela Ofélia Ninfa... em tuas preces? Estão lembrados todos meus pecados?" (trecho da primeira cena do terceiro ato - pp. 111-112)

Sobre o tradutor: Leonardo Afonso é tradutor, escritor e pesquisador acadêmico na área dos Estudos Shakespeareanos, tendo já abordado temas como loucura e linguagem sexual na obra do poeta. Nascido em Brasilia em 1980, é acima de tudo um grande entusiasta da literatura em geral, e daquela de Shakespeare e de seus contemporâneos em particular.

Onde encontrar o livro: Clique aqui para comprar A tragédia de HAMLET, príncipe da Dinamarca de William Shakespeare

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

As 20 obras mais importantes da literatura francesa

As 20 obras mais importantes da literatura japonesa

As 20 obras mais importantes da literatura dos Estados Unidos

As 20 obras mais importantes da literatura portuguesa

As 20 obras mais importantes da literatura italiana

As 20 obras mais importantes da literatura brasileira