William Shakespeare - A tragédia de HAMLET, príncipe da Dinamarca
O legado do poeta, dramaturgo e ator inglês William Shakespeare (1564-1616) é fundamental não apenas para as artes e a literatura inglesa, mas representa também uma grande influência para a cultura mundial, encenado e publicado em vários idiomas, está sempre originando novas adaptações para o teatro, cinema ou referências em diversas áreas da atividade humana, inclusive na psicanálise.
Segundo o renomado crítico Harold Bloom (1930-2019), um dos seguidores da "bardolatria", mais do que uma força da natureza, o mestre William Shakespeare é a própria natureza:
"Em Shakespeare, não temos um sábio, nem um crente, mas uma consciência tão vasta que não tem, em absoluto, concorrente: seja em Cervantes ou Montaigne, em Freud ou Wittgenstein. Aqueles que escolhem uma das religiões do mundo, ou por elas são escolhidos, frequentemente postulam uma consciência cósmica à qual atribuem origens sobrenaturais. Mas a consciência shakespeariana, que transforma matéria em imaginação não precisa violar a natureza. A arte shakespeariana é a própria natureza e a consiência de Shakespeare mais parece produto do que produtora dessa arte." (Gênio, os 100 autores mais criativos da história da literatura - Harold Bloom - p. 36)
Considerada como uma das "quatro grandes tragédias" de Shakespeare, juntamente com Rei Lear, Macbeth e Otello, Hamlet é situada na Dinamarca e, resumidamente, trata da vingança do príncipe Hamlet depois da morte de seu pai, Hamlet, o rei, executado por seu irmão Cláudio, que o envenenou e em seguida usurpou o trono casando-se com a rainha Gertrude. Uma obra "caleidoscópica" como bem definiu Leonardo Afonso, mestre e doutorando em Linguística da Unicamp, que trabalhou ao longo de dez anos nesta tradução:
"A peça, caleidoscópica inclui ainda uma série de temas, que vão do mítico ao psicológico ao metalinguístico e ao metafísico, os quais foram diligentemente explorados em séculos de tratados e artigos, e através de diferentes ênfases em suas montagens e adaptações. Estas, cabe acrescentar, costumam efetuar significativos cortes ao texto integral, que tem em torno de trinta mil palavras, sendo boa parte delas do protagonista, o qual faz sete solilóquios e é o mais extenso papel de todas as peças de Shakespeare." (Introdução - p. 11)
A tradução de qualquer obra é sempre um desafio, ainda mais quando se trata de uma peça composta entre 1599 e 1601, em sua maior parte "em versos brancos, no metro usual do poeta, o pentâmetro iâmbico (cinco pés de sílaba fraca e sílaba forte)". O tradutor, decidiu manter esta versão completa em prosa, com exceção dos poemas e canções, em uma linguagem conservadora, mas não arcaica, o que resultou em um texto mais acessível ao grande público.
Considero que esta edição é uma ótima oportunidade para um primeiro contato com a obra de Shakespeare, com notas que esclarecem referências literárias ou mitológicas, assim como explicações sobre jogos semânticos como trocadilhos, impossíveis de se preservar na tradução. Adicionalmente, uma introdução concisa ajuda o leitor a compreender o contexto da época e outros dados históricos sobre a vida de William Shakespeare e sua obra imortal.
"Ser ou não ser, eis a questão: será mais nobre na mente sofrer as pedras e setas da Fortuna enfurecida ou tomar de armas contra um mar de provações e em oposição pô-las a termo? Morrer, dormir, não mais, e supor que com um sono eliminemos a dor no coração e as mil mazelas naturais de que a carne é herdeira: é uma consumação a ser devotamente desejada. Morrer, dormir... Dormir! Porventura sonhar; sim, eis o problema, já que nesse sono mortal os sonhos que possam sobrevir; quando já desembaraçados deste turbilhão da existência, devem fazer-nos hesitar: eis o respeito que dá vida tão longa à calamidade, pois quem suportaria o açoite e o escárnio do tempo, o agravo do opressor, a contumélia do orgulhoso, as chagas do amor desprezado, o tardar da lei, a insolência da autoridade e as esporadas que o mérito paciente de pulhas recebe, quando ele próprio poderia sua quitação lavrar com uma mera adaga? Quem fardos carregaria, grunhindo e suando sob uma vida fatigante, não fosse que o pavor de algo após a morte – a terra indescoberta de cujas raias viajor algum retorna – confunde o arbítrio, e faz-nos antes suportar as dores que temos que fugir a outras as quais ignoramos? Assim faz a consciência de todos nós covardes, e assim o matiz saudável da determinação é acometido do pálido verniz da cogitação, e empresas de grande vigor e importância, com tal consideração, seus cursos desviam-se do rumo, e perdem o nome de ação. Cala-te agora! A bela Ofélia Ninfa... em tuas preces? Estão lembrados todos meus pecados?" (trecho da primeira cena do terceiro ato - pp. 111-112)
Sobre o tradutor: Leonardo Afonso é tradutor, escritor e pesquisador acadêmico na área dos Estudos Shakespeareanos, tendo já abordado temas como loucura e linguagem sexual na obra do poeta. Nascido em Brasilia em 1980, é acima de tudo um grande entusiasta da literatura em geral, e daquela de Shakespeare e de seus contemporâneos em particular.
Onde encontrar o livro: Clique aqui para comprar A tragédia de HAMLET, príncipe da Dinamarca de William Shakespeare
Comentários