Adriano de Paula Rabelo - Ouriço: senso incomum
Adriano de Paula Rabelo - Ouriço: senso incomum - Editora Aglaia - 152 Páginas - Projeto gráfico, capa e editoração eletrônica de Pablo do Prado e Arnaldo Pires Bessa - Lançamento: 2019
Embora a publicação de coletâneas de máximas ou aforismos não seja uma prática comum no nosso mercado editorial, a literatura está cheia de exemplos de autores que se tornaram grandes frasistas, desafiando o senso comum com exercícios de inteligência, ironia e bom humor. Desde Jean de La Bruyère (1645-1696) e Oscar Wilde (1854-1900) até Umberto Eco (1932-2016), são muitos os escritores que marcaram o pensamento da sua época. O Brasil está bem representado nesta área com autores como Nelson Rodrigues (1912-1980), Otto Lara Resende (1922-1992) e Millôr Fernandes (1923-2012), essa saudosa tríade sagrada da inteligência nacional.
A jovem editora Aglaia aposta na força dos aforismos de Adriano de Paula Rabelo que, segundo a apresentação de Mario P. Zerbetto, Doutor em História pela USP, era, durante a época da universidade "um mineiro taciturno, discretamente irônico, espinhoso por fora mas tenro por dentro", o que explica o título do livro. Na verdade, Adriano revela sensibilidade para nos mostrar uma visão independente do mundo, o "senso incomum", um antídoto para uma forma anestesiada de pensar. Particularmente nesta época em que a análise crítica é quase nula e as pessoas compartilham um conhecimento reacionário e incompleto, por vezes até mesmo apócrifo, nas redes sociais ou nos famigerados grupos de WhatsApp.
Cada aforismo é acompanhado por um título que complementa o sentido da frase ou, em alguns casos, cria um contraste com a ideia inicial. O livro é dividido em quatro partes, de acordo com a inspiração para os aforismos: Sociocultural / Sentimentos / Linguagens / Especulações. Selecionei cinco exemplos de cada parte para que o leitor possa ter uma noção da refinada ironia do autor na construção de seus espinhos, verdadeira profilaxia contra a preguiça mental.
Parte 1 - Sociocultural
Caduco (p. 18)
"O adolescente desenterra as revoltas mais obsoletas."
Performance (p. 23)
"A ignorância gosta de se exibir"
Jurisprudente (p. 27)
"Muita lei, pouca justiça"
Asserção (p. 31)
"Buscamos, nas ideologias disponíveis, algo que nos engane."
Avanço (p. 49)
"Toda civilização precisa ser permanentemente civilizada."
Parte 2 - Sentimentos
Átila (p. 54)
"Sofrimento passa, mas é para sempre."
Fastio (p. 65)
"Para entediar-se, é preciso ter uma renda regular."
Pertinaz (p. 74)
"Um novo casamento é a teimosia da esperança."
Aproximações (p. 77)
"Não há admiração que resista a um bom exame."
Fabular (p. 81)
"Amar é ver no outro o que lá não está."
Parte 3 - Linguagens
Cógnito (p. 90)
"O silêncio é a única sabedoria ao alcance do imbecil."
Invenção (p. 94)
"Não fosse a literatura, não haveria o amor."
Sem-juízo final (p. 96)
"A morte, essa fábrica de virtudes."
Discretiva (p. 110)
"Quando tudo estiver perdido, não faça barulho."
Fiar (p. 111)
"Quem muito afirma já não acredita."
Parte 4 - Especulações
Interseção (p. 121)
"Tempo é falta de dinheiro."
Aleteia (p. 123)
"Verdade é aquilo que nos convém."
Estreia (p. 131)
"Viver é a busca permanente de uma primeira vez."
Freima (p. 139)
"Saber que vamos morrer é o que nos mata."
Reversais (p. 147)
"A inteligência é móvel, a burrice fixa."
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Comentários
Triste mas real constatação do resenhista: ("Particularmente nesta época em que a análise crítica é quase nula e as pessoas compartilham um conhecimento reacionário e incompleto, por vezes até mesmo apócrifo, nas redes sociais ou nos famigerados grupos de WhatsApp.)" Sim!