Diego Ruas - A fome é a mãe de todas as bombas
Como fica claro a partir do título – A fome é a mãe de todas as bombas – não falta engajamento político ao livro de Diego Ruas, afinal o poeta não pode ignorar a realidade que o cerca, já gritam os versos iniciais: "Como ser neutro, se a realidade / é uma lâmina que atravessa meu peito / e recorta meu país em classes?" ou no aviso que cala fundo em nossa alma: "Se a gente não toma cuidado, / a vida se torna morte / cotidiana, do melhor / que a gente tem / dentro / de / nós.", não podemos deixar que isso aconteça e para nos alertar serve também a poesia.
A declaração está feita no melhor estilo de Paulo Leminski: "[...] Quero todas as coisas ao mesmo tempo. / Eu sou uma parte do mundo no mundo / a perder à vista. / Quero jogar uma bomba na rotina / e incendiar o mundo / de borboletas. // Eu sou uma bomba atônita / em estado de poesia.", contudo, como não poderia deixar de ser, também de amor fala o poeta: "Meu coração é um banco de praça pública, onde todos os romances acontecem." e de solidão nas grandes cidades, quem nunca se sentiu assim: "Solidão é / um trem abarrotado de gente / desconhecida"
O poema Refugiado é dedicado à Mahmoud Darwish, considerado o poeta nacional da Palestina, mas uma homenagem também para todos que sofrem no exílio sem ter tido outra opção do que viver com a dor de abandonar a pátria, escolha que certamente nenhuma pessoa faria por vontade própria, sentimento resumido nos lindos versos: "A terra da qual migrei está longe, / mas ainda vive dentro de mim. / Meu endereço? / Todos os corações que ficaram / e os que se perderam. / Minha pátria, agora, / é só o que posso carregar / no peito e nas costas."
"Por ora, / a felicidade poderia se chamar / agora." Deixo com vocês três exemplos da poesia política de Diego Ruas, inspiração para lutar contra tempos sombrios:
à Mahmoud Darwish
EM LETRAS GARRAFAIS:
não sou um número, tenho um nome.
Minha identidade não é documento.
As árvores me conhecem desde a tenra infância.
Não sou bárbaro.
Não matei, não roubei, não oprimi.
Fugi de uma guerra que não era minha.
O terror que te preocupas,
tirou de mim, minha família.
mas ainda vive dentro de mim.
Meu endereço?
Todos os corações que ficaram
e os que se perderam.
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