Simon Schama - O Poder da Arte, Parte 1 - Caravaggio

Pintura
O Poder da Arte - Simon Schama - Editora Companhia das Letras - 504 páginas - Tradução de Hildegard Feist - Capa de Raul Loureiro e Claudia Warrak - Lançamento no Brasil: 15/10/2010

O crítico e escritor britânico Simon Schama estudou em Cambridge e lecionou em Oxford até 1980, quando se mudou para os Estados Unidos para trabalhar como professor em Harvard. Foi crítico de arte da revista The New Yorker e atualmente dá aulas na Universidade de Columbia, em Nova York. Ele é produtor e apresentador de documentários sobre história e história da arte para a BBC.

Em O Poder da Arte Simon Schama analisa a biografia e obras de oito artistas de estilos e épocas completamente diferentes: Caravaggio, Bernini, Rembrandt, Davi, Turner, Van Gogh, Picasso e Rothko, mas que de alguma forma revolucionaram a pintura e escultura de seu tempo. O autor não segue a tradicional linha de livros de arte, preferindo abordar uma visão humanista dos criadores e suas angústias e dilemas estéticos em função do período histórico em que viveram. Em cada uma das oito partes do livro entendemos como a busca pela beleza pode ser um processo reflexivo e que a história da arte nada mais é do que uma série de histórias pessoais de sucesso ou fracasso.

Parte 1 - Caravaggio - Michelangelo Merisi da Caravaggio (1571-1610) quando chegou em Roma aos 21 anos, encontrou um cenário propício para o desenvolvimento do seu trabalho. A guerra religiosa entre católicos e protestantes demandava imagens dramáticas que pudessem converter e manter os fiéis da Igreja Católica Romana, tais imagens eram uma violação dos mandamentos sagrados segundo os luteranos. O Concílio de Trento (1561-3) definiu claramente o papel da pintura sacra como inspiração para os católicos adorarem, venerarem e obedecerem. Lembrando que a maioria dos europeus nesta época era analfabeta, por este motivo as grandes e belas pinturas (assim como a escultura e música sacras) representavam uma forma efetiva de preservar a lealdade dos fiéis.

Pintura
A crucificação de São Pedro - 1600 (Capela Cerasi, Santa Maria del Popolo, Roma)

Uma das técnicas de maior sucesso de Caravaggio consistia em eliminar a distância entre o observador e o acontecimento. No caso de "A crucificação de São Pedro" ficamos posicionados bem abaixo da cena que representa o complicado processo de crucificar Pedro de cabeça para baixo, pois o apóstolo se considerava indigno de ser martirizado na mesma posição que Cristo. Segundo Simon Schama, a genialidade do quadro está em focalizar uma ação inconclusa, em eterno e implacável andamento: um puxar e suspender, um arrastar e girar que parece não acabar nunca — exatamente como a Igreja também queria que os fiéis sentissem a cena, sobretudo na cidade de São Pedro (Roma). Outra necessidade da Igreja, plenamente atendida por Caravaggio, é que as pessoas comuns se sentissem ao mesmo tempo envolvidas no pecado e seguras da salvação, desde que se mantivessem obedientes aos sucessores de São Pedro.

Pintura
Os Trapaceiros, 1596 (Kimbell Art Museum, Fort Worth, Texas)

Apesar do talentoso Caravaggio atender tão bem às demandas de trabalho da Igreja, o seu comportamento em Roma não podia ser considerado exatamente cristão, dono de um temperamento explosivo e imprevísivel portava sempre espada e adaga além de circular pela cidade com prostitutas e cortesãs. Embora, naturalmente, a Igreja proibisse que mulheres de má reputação posassem para os pintores, sobretudo no caso de temas sacros, Caravaggio muitas vezes usou-as como modelos. Além disso, andava também na companhia de um grupo de artistas arruaceiros, molestando os transeuntes e bebendo até cair nas tabernas da região do Campo de Marzio, tendo sido inclusive acusado de homicídio em uma dessas confusões. Alguns de seus trabalhos refletem também os aspectos da vida mundana de Roma, como "Os Trapaceiros" acima.

Pintura
Davi com a cabeça de Golias, 1605-6
(Galeria Borghese, Roma)
Simon Schama destacou "Davi com a cabeça de Golias" como a obra que simboliza o conflito entre o violento e o sublime na vida de Caravaggio.  "A cabeça cortada de Golias é um autorretrato do próprio Caravaggio, mas poderia ser também um duplo autorretrato, o corpo juvenil banhado em luz, Davi é  o abençoado Caravaggio do passado, o Caravaggio de seus inícios prodigiosos, o criador de beleza cristã. Contudo, essa mesma luz se dirige para baixo, para o rosto do ogro, o Caravaggio do presente, o devasso bissexual, o homicida." 

Nas obras de outros artistas, Davi personifica sempre a união de virtude divina e força heroica, mas aqui, "em vez de representar a total oposição entre a vitória heroica e o mal derrotado, Davi e Golias parecem unidos pelo trágico conhecimento de si mesmos." Como sempre o contraste das figuras humanas contra o fundo escuro e o realismo que mistura sagrado e profano.

Para explorar um banco de dados completo sobre a obra de Caravaggio, recomendo muito visitar o site caravaggio.com que além das informações detalhadas sobre as obras e a localização das mesmas em cada museu do mundo, oferece recursos para visualização em alta definição de cada pintura.

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