Jung Chang - Três irmãs

Biografia

Jung Chang - Três irmãs: As mulheres que definiram a China moderna - Editora Companhia das Letras - 392 Páginas - Tradução de Odorico Leal - Capa de Claudia Espínola de Carvalho - Lançamento: 2021.

O mais recente lançamento da escritora chinesa, radicada em Londres, Jung Chang, autora de Cisnes selvagens, é uma biografia que mais parece um romance ao descrever em detalhes os bastidores das grandes reviravoltas políticas da China ao longo de todo o século XX, tais como: a queda da Monarquia da Dinastia Qing provocada pelo revolucionário Sun Yat-Sen em 1911, a ascensão do movimento nacionalista liderado por Chiang Kai-Shek em 1928, a luta contra a invasão do Japão no período da Segunda Grande Guerra, o governo comunista e totalitário de Mao Tsé-tung que controlou o país de 1945 a 1976, chegando finalmente ao regime de transição para o sistema de economia de mercado com Deng Xiaoping nos anos noventa. Sempre atuantes em todas essas etapas da história chinesa e global estavam as três irmãs: Ei-ling, Ching-ling e May-ling.

Em uma sociedade fortemente patriarcal, que não oferecia condições mínimas de educação para as mulheres, as filhas do empresário Soong Charlie foram educadas nos Estados Unidos, tornando-se fluentes em inglês e adquirindo uma visão de mundo privilegiada frente às suas contemporâneas que, ainda bebês, tinham os quatro dedos menores de cada pé quebrados e dobrados para baixo da sola, a fim de produzir pés na forma de pétalas de lírio. Naturalmente, todas as irmãs se destacaram em suas áreas de atuação, casando-se com alguns dos homens mais influentes do seu tempo, e atuando em áreas políticas muito diferentes. Um impressionante trabalho de pesquisa foi necessário para elaboração desta biografia tripla, enriquecida ainda por bibliografia detalhada, fotos de época, notas de referência e índice remissivo, excelente oportunidade para conhecer um pouco mais da história do país-continente que hoje domina a economia mundial.

"O mais conhecido 'conto de fadas' chinês moderno é a história de três irmãs, nascidas nos últimos anos do século XIX, em Shanghai. Vinham de uma família rica e proeminente – Os Soong –, parte da elite da cidade. Os pais eram cristãos devotos: a mãe integrava o clã cristão mais ilustre da China (o de Xu, que dá nome a um distrito de Shanghai), e o pai fora o primeiro chinês convertido pelos metodistas no Sul dos Estados Unidos, ainda adolescente. As três filhas – Ei-ling ('Doce Idade', nascida em 1889), Ching-ling ('Idade Gloriosa', nascida em 1893) e May-ling ('Bela Idade', nascida em 1898) – foram enviadas ainda crianças para estudar nos Estados Unidos, algo extremamente raro na época. Voltaram anos depois, dominando mais o inglês do que o chinês. Pequenas e de queixo anguloso, não eram beldades pelos padrões convencionais: o rosto não tinha a forma de sementes de melão, os olhos não se assemelhavam a amêndoas, e as sobrancelhas não arqueavam como os brotos do salgueiro. Mas tinham a pele muito bonita, traços delicados e a postura graciosa, conjunto que se realçava pelo requinte das roupas. As três irmãs tinham visto o mundo, eram inteligentes, autoconfiantes e independentes. Em uma palavra, tinham 'classe'" (p. 15)

Ei-ling (1889-1973), a Irmã Mais Velha, rejeitou todas as demonstrações de interese do revolucionário Sun Yat-en e casou-se com H. H. Kung, de família rica, que, graças aos contatos da esposa, ocupou os postos de primeiro-ministro e de ministro das Finanças no longo governo de Chiang Kai-shek, cunhado de Ei-ling, o que a tornou uma das mulheres mais ricas da China. O casal sempre foi criticado por acusações de corrupção, principalmente durante o governo comunista de Mao Tsé-tung, tendo que se exilar nos Estados Unidos onde viveu por muitos anos em Nova York. Ela sempre assumiu uma função protetora com relação às outras irmãs, principalmente com relação a May-ling, a irmã mais nova, assumindo o papel de mãe.

"A invasão japonesa, em setembro de 1931, deu a Chiang Kai-shek um inimigo externo e uma oportunidade de romper o isolamento político, clamando por unidade nacional e convidando oponentes a participar de seu governo. (O convite não incluía os comunistas, que eram vistos como 'bandidos') Alguns responderam – sob a condição de que ele renunciasse do posto de presidente. Chiang o fez – porém não antes de garantir que dois pesos-leves assumissem os cargos de presidente e primeiro-ministro. Este último era o filho de Sun Yat-sen, Fo, que não herdara os instintos assassinos do pai. Mais tarde, Chiang tomaria esses postos de volta. Por ora, imperava como chefe militar, o Generalíssimo." (p. 182)

Ching-ling (1893-1981), a Irmã Vermelha, fugiu de casa para ser a companheira de Sun Yat-sen – conhecido como pai fundador da China moderna –, após a morte de Sun ela morou na União Soviética e participou do governo de Mao Tsé-tung, o que provocou o afastamento das outras duas irmãs que não toleravam o comunismo. Durante os anos de repressão e expurgo do governo Mao, notadamente no período da Revolução Cultural em 1966, ela foi preservada pelo partido graças ao seu valor como Madame Sun Yat-sen, mas a Irmã Vermelha já não podia ignorar as violências do governo contra os amigos e familiares que eram torturados em tribunais populares, despejados de suas casas ou, no pior dos casos, simplesmente executados.

"Em 1958, Mao lançou o grandioso 'Grande Salto para a Frente' – na verdade, um projeto para construir uma variedade de indústrias militares a uma velocidade desconcertante. Havia demanda por aço, e Mao, completamente inepto em assuntos econômicos, ordenou que toda a população o produzisse. Fornalhas de fundo de quintal brotaram na China inteira – a própria Ching-ling construiu uma no seu jardim. Para abrir espaço para aquela monstruosidade, precisou cortar árvores antigas lindas. O 'Diário do Povo' anunciou que ela segurou um pedaço de aço em brasa para jovens rapazes martelarem. Sentia-se infeliz, mas não protestou. O desperdício monumental de recursos humanos e naturais do Grande Salto teve um enorme papel na grande fome nacional, que durou quatro anos, de 1958 a 1961. Cerca de 40 milhões de pessoas morreram. [...]" (p. 271)

May-ling (1898-2003), a Irmã Mais Nova, considerada a mais extrovertida da família, casou-se com o Generalíssimo Chiang Kai-shek, tornando-se primeira-dama da República da China por 22 anos – tempo em que o marido esteve no poder, desempenhando um papel importante durante a Segunda Guerra Mundial ao representar o seu país junto aos Estados Unidos e obtendo importantes recursos. O governo nacionalista de Chiang Kai-shek atuou como uma ditadura, empregando mecanismos de propaganda e controle à moda soviética, mas ele sempre rejeitou o comunismo, assim como May-ling que, na época, era tão conhecida como se fosse uma glamurosa estrela internacional, cercada de muito luxo e privilégios bancados pelo Estado.

Sobre a autora: Jung Chang nasceu em 1952, na China. É autora, entre outros, de Cisnes selvagens, que recebeu o NCR Book Award, e A imperatriz de ferro, e coautora da biografia Mao: A história desconhecida. Seus livros já venderam mais de 15 milhões de cópias e foram traduzidos para mais de quarenta idiomas.

Onde encontrar o livro: Clique aqui para comprar Três irmãs de Jung Chang

Comentários

Muito interessante. Obrigada pela resenha.
Alexandre Kovacs disse…
Oi Kelly, obrigado pela visita e comentário. Grande abraço!

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