Bruno Gaudêncio - Blues e minotauros

Poesia brasileira contemporânea
Bruno Gaudêncio - Blues e minotauros - Editora Leve - 84 Páginas - Ilustrações de Felipe Stefani - Prefácios de Andri Carvão e Henrique Rodrigues - Lançamento: 2021.

Os poemas de Bruno Gaudêncio lidam com a metaficção – "Escrevo um poema / sobre o ato de não / escrever um poema" – e surpreendem pela polifonia, inspirada por uma multiplicidade de influências literárias, que podem variar de Mallarmé até Patti Smith ou de Raymond Carver até Carlos Drummond de Andrade, como bem expresso em seus versos: "Sou tantos / que não sou nenhum / dos tolos todos / que sempre fui" Nesta improvável combinação de encruzilhadas e labirintos é que a poesia de Bruno Gaudêncio busca inspiração para revisitar algumas das regiões mais ricas do nosso imaginário, seja no Delta do Mississipi ou na ilha de Creta.

Divido em duas partes (Há um blues dentro de mim e O labirinto é um monstro guardado), os quarenta poemas reunidos foram criados entre os anos de 2018 e 2020 e, principalmente na segunda metade do livro, trabalham com a imagem da morte e do suicídio, principalmente pela influência da recente e trágica pandemia, tão marcante na nossa memória coletiva, descrita nos versos de Ruas vazias: "um corpo / implodido / por um / meteoro / microscópico / tsunami / interno [...] um corpo / que sendo corpo / assusta / os outros / corpos / de sua infinita / cidade / isolada / e inerte" Deixo com vocês três exemplos da poesia de Bruno Gaudêncio.

Uma noite de guerra
Para Walter Benjamin

Viver significa deixar
                ruínas
cacos guardados
        na memória

um projeto de luz
        nos escombros
de uma noite de guerra

        o futuro é o recomeço
        que os olhos enceram

um mapa na altura da terra
um corpo que encara uma guerra

        guerra de sonhos
        guerra de dores
        guerra de guerras

o passado escondido na tela
o cérebro a pisar na esfera
o libido a lutar contra a fera

        a foice no instante na sela

Olhos fixos

Ontem
morreu de frio
um homem
no rio pequeno

no rio pequeno
morreu o frio
de um homem

ontem
morrreu no rio
pequeno
um homem
frio

um pequeno rio
frio
morreu
no homem

ontem
morreu de frio
um homem no
rio pequeno

Setembro amarelo

Se me mato, não é para me destruir, mas
me reconstituir" (Antonin Artaud)

Coleciono
        suicidas
                em meus cadernos 
                imaginários

listo formas

grifos
        as exóticas
                com tinta 
                vermelha

tenho simpatia
principalmente
                por aqueles 
                afligidos
                por traumas
                coletivos

como guerras
e genocídios

                porém
                os que mais gosto
                são os que se jogam
                em vulcões
                sem dizer nada 

Sobre o autor: Bruno Gaudêncio é escritor e historiador. Natural de Campina Grande-PB (1985). Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Coeditor da Revista Blecaute. Na poesia, publicou: O ofício de Engordar as Sombras (2009), Acaso Caos (2013), O Silêncio Branco (2015), O Caos anterior ou uma antologia de si (2015) e A cicatriz que canta o incêndio da raiz (2018). Foi um dos vencedores do "Prêmio Incentivo à Literatura 200 anos de Independência do Brasil" (2018). Blues e minotauros foi publicado com recursos da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc. Prêmio de Literatura, Edital Nº 004/2020.

Onde encontrar o livro: Clique aqui para comprar Blues e minotauros de Bruno Gaudêncio

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