As 20 melhores resenhas do Mundo de K em 2017

Resenhas literárias

Mais um ano difícil nas áreas de política e economia e, na literatura, as perdas de João Gilberto Noll e Ricardo Piglia. Chegamos novamente ao momento das listas de final de ano. Esta não reflete somente os lançamentos de 2017, mas as melhores resenhas de livros publicadas em ordem cronológica, como sempre com base apenas no meu gosto e avaliação pessoal — sigam os links para ler as resenhas completas. Desejo a todos um ótimo 2018 com muita literatura, cultura e arte em geral. Espero continuar contando com a presença de vocês no Mundo de K!

Melhores resenhas de 2017(01) Julián Fuks - A Resistência 
(resenha publicada em 11/01/2017)

Este livro alterna entre a autobiografia e ficção, utilizando "palavras guardadas na obscuridade da memória, palavras já esquecidas e transformadas em vagas noções, turvas imagens, impressões duvidosas", assim define em certa passagem o angustiado protagonista Sebastián, representação do autor Julián Fuks, na tentativa de resgatar a sofrida história da própria família, a começar pela resistência política dos pais argentinos, exilados no Brasil, fugitivos da ditadura militar em seu país de origem. Outra resistência que permeia toda a narrativa é a do irmão mais velho, que foi adotado ainda na Argentina, neste caso uma resistência ao convívio familiar. Contar os dramas particulares da própria família não deve ter sido uma tarefa fácil, ainda mais porque o autor partiu apenas das já citadas "vagas noções" dos fatos e com elas precisou "construir o edifício desta história, sobre alicerces subterrâneos tremendamente instáveis..
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Melhores resenhas de 2017
(02) Svetlana Aleksiévitch - O fim do homem soviético 
(resenha publicada em 04/02/2017)

Assim como nos dois livros anteriores da escritora e jornalista bielorussa Svetlana Aleksiévitch, prêmio Nobel de Literatura 2015, já publicados no Brasil: "Vozes de Tchernóbil" e "A guerra não tem rosto de mulher", aqui também a história deixa de ser uma ciência fria, que apenas reconstitui cronologicamente os fatos do passado, passando a assumir uma abordagem humanista, por meio de centenas de depoimentos de pessoas simples que foram, ao mesmo tempo, as vítimas e os carrascos das transformações políticas que vivenciaram na Rússia durante o longo e violento século XX, um povo que se acostumou a sobreviver (e não viver) à sombra de um ideal grandioso, sempre em períodos de guerra ou de preparação para a guerra. "Mesmo durante a paz, tudo na vida era próprio da guerra. O tambor batia, a bandeira esvoaçava... o coração saltava do peito... A pessoa não percebia sua escravidão, até amava sua escravidão."

Melhores resenhas de 2017
(03) David Grossman - O inferno dos outros 
(resenha publicada em 10/02/2017)

David Grossman divide a posição de protagonismo na literatura israelense contemporânea com Amós Oz, sendo que ambos defendem coincidentemente uma solução pacifista, por meio do reconhecimento de dois Estados, para o conflito entre judeus israelenses e árabes palestinos no Oriente Médio. Os dois autores também são muito criticados pelos movimentos sionistas mais radicais em todo o mundo por suas posições "esquerdistas" e considerados como traidores da causa de Israel. É claro que mesmo assumindo posturas políticas de não violência, as obras desses escritores não poderiam ser imunes ao cenário de conflitos e ódio em que vivem — o próprio Grossman perdeu um filho na Guerra do Líbano em 2006 — e, portanto, seus livros acabam ajudando a refletir sobre este tema, assim como a amarga herança do Holocausto que nenhum judeu (ou não judeu) é capaz esquecer até hoje.
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Melhores resenhas de 2017(04) Arthur Conan Doyle - O livro de Moriarty 
(resenha publicada em 15/02/2017)

Arthur Conan Doyle (1859-1930) criou um dos personagens mais famosos da literatura ao publicar um conjunto de quatro romances e 56 contos, chamado de Cânone pelos ardorosos fãs, sobre o carismático detetive Sherlock Holmes e seu fiel amigo Dr. Watson. No entanto, Doyle tornou-se um prisioneiro da sua própria criação, que consumia todo o seu tempo e o impedia de se dedicar a outros projetos literários, como confessou em uma carta de 1891 à sua mãe: "Estou cansado de ouvir o nome de Sherlock Holmes. Ele pertence a um estrato inferior de criação literária. Como prova de minha resolução, estou decidido a matá-lo". E, de fato, criou um vilão à altura do famoso investigador e capaz de eliminá-lo, um personagem que se transformaria em arqui-inimigo e espelho do mal, definido pelo próprio (e vaidoso) Sherlock Holmes como "gênio, filósofo e pensador abstrato, dotado de um cérebro de primeira grandeza", o maquiavélico professor James Moriarty.

Melhores resenhas de 2017(05) Elena Ferrante - História de quem foge e de quem fica 
(resenha publicada em 21/02/2017)

O curioso nesta tetralogia napolitana de Elena Ferrante é que cada volume consegue superar o anterior, tanto em termos de cuidado na construção dos personagens quanto pela fluência da narrativa, provocando um delicioso estado de ansiedade no leitor pelo próximo lançamento da série. Após os dois ótimos primeiros volumes: "A amiga genial" e "História do novo sobrenome", respectivamente sobre a infância e juventude de Lila Cerullo e Elena Greco (sigam os links para as duas resenhas), este terceiro romance é focado na fase adulta das amigas e nos muitos obstáculos que a vida traz para ambas, principalmente durante os anos setenta, um período conturbado da história da Itália, conhecido como "Anos de chumbo", que foi marcado por conflitos políticos, atos terroristas e reivindicações sociais em todo o país. Um livro muito bem escrito e difícil de largar até o final.
Melhores resenhas de 2017
(06) Roberto Bolaño - O espírito da ficção científica 
(resenha publicada em 24/02/2017)

Durante a Feira do Livro de Guadalajara de 2016, Lautaro Bolaño, filho de Roberto Bolaño (1953-2003), e Carolina López, sua viúva, participaram do lançamento de "O espírito da ficção científica", ambientado na Cidade do México nos anos 1970, mas escrito em Blanes, Espanha, em 1984, conforme atesta a assinatura de Bolaño no manuscrito original. A obra faz parte de um legado literário de mais de 14.000 páginas, entre cadernos, pastas e cartas, deixado pelo escritor chileno, que é considerado o mais influente da literatura espanhola contemporânea. Não há como fugir da antiga discussão sobre a validade de herdeiros lançarem no mercado obras inéditas que não foram devidamente finalizadas e aprovadas pelos próprios criadores, como é o caso aqui. Na verdade, Bolaño, que morreu com apenas 50 anos, é frequentemente citado neste tipo de polêmica já que seus livros mais importantes foram lançadas postumamente, como "2666" e "O Terceiro Reich".

Melhores resenhas de 2017
(07) José Luís Peixoto - Galveias 
(resenha publicada em 03/03/2017)

Gostei muito deste romance do português José Luís Peixoto, vencedor do Prêmio Oceanos 2016 (antigo Portugal Telecom de Literatura). O autor já tinha um nome consolidado desde 2001, quando recebeu o prêmio José Saramago para jovens escritores em língua portuguesa, juntando-se a um seleto grupo formado por Paulo José Miranda, Adriana Lisboa, Gonçalo M. Tavares, Valter Hugo Mãe, João Tordo, Andréa del Fuego, Ondjaki e Bruno Vieira Amaral. No entanto, ainda não tinha lido qualquer livro dele e, confesso, fiquei impressionado com a criatividade e beleza do texto que me deixou uma agradável sensação de descoberta, coisa que, no meu caso, ocorre com periodicidade aproximada de cada cinco anos, quando tenho a certeza de estar conhecendo um novo clássico do nível do saudoso Saramago (a última vez, por exemplo, foi com Valter Hugo Mãe).
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(resenha publicada em 05/03/2017)

A prosa caudalosa e mágica de João Guimarães Rosa (1908-1967), suas invenções e intervenções semânticas e o resgate da linguagem regional, todas essas características compõem ainda um fenômeno sem igual na literatura brasileira que imortalizaram o autor e sua obra mais importante: "Grande Sertão: Veredas". No entanto, devido ao nível de excelência dos seus romances, o único volume de poesias escrito pelo "feiticeiro das palavras" ficou sempre relegado a segundo plano, publicado postumamente em 1997 pela Editora Nova Fronteira (hoje, vinte anos depois, "Magma" permanece fora de catálogo). O próprio Guimarães Rosa, considerava "Magma" uma obra menor e não demonstrou interesse em publicá-la durante toda a sua vida, apesar do livro ter sido ganhador do concurso literário promovido pela Academia Brasileira de Letras (ABL) em 1936, utilizando o pseudônimo “Viator”.
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Melhores resenhas de 2017
(09) Luiz Ruffato - Inferno Provisório 
(resenha publicada em 30/03/2017)

É difícil escrever uma resenha objetiva ainda sob o efeito deste complexo projeto literário que é a obra "Inferno Provisório" de Luiz Ruffato. Lançado originalmente em cinco volumes pela Editora Record: "Mamma, Son Tanto Felice" (2005), "O Mundo Inimigo" (2005), "Vista Parcial da Noite"(2006), "O Livro das Impossibilidades" (2008) e "Domingo sem Deus" (2011), a pentalogia foi reescrita e editada em um único volume neste recente lançamento da Companhia das Letras. O romance, se é que podemos chamar assim, por falta de definição melhor, cobre um período de cinco décadas da história brasileira por meio de um mosaico composto por dezenas de famílias e mais de uma centena de tipos representativos da nossa população operária. Os capítulos formam unidades independentes do todo e, sem um protagonista único, os personagens vão se sucedendo em uma ordem aleatória de apresentação, podendo voltar ou não a compor a estrutura narrativa de outras histórias ao longo do livro, talvez em outras épocas.

Melhores resenhas de 2017
(10) Jonathan Shaw - Scab Vendor 
(resenha publicada em 10/04/2017)

O multitalentoso artista e escritor Jonathan Shaw é um ícone da cultura underground norte-americana, filho do lendário clarinetista e bandleader Artie Shaw e da estrela de cinema Doris Dowling, ficou mundialmente famoso por ter sido o fundador e proprietário do Fun City Tattoo Studio em Nova York e editor da pioneira revista International Tattoo Art Magazine, tornando-se amigo de artistas e músicos famosos como: Johnny Depp, Dee Dee Ramone, Johnny Winter, Iggy Pop e Max Cavalera, para citar somente alguns. Uma prova de sua influência no meio artístico é o privilégio de ter uma ilustração de Robert Crump na capa de seu livro. No entanto, apesar de ter alcançado tamanho reconhecimento e popularidade na carreira de tatuador, abandonou tudo para se dedicar à atividade de escritor em tempo integral e acumular experiência em viagens com sua motocicleta pela América do Sul, tendo inclusive morado no Rio de Janeiro.
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(11) Bob Dylan - Letras (1961-1974) - Volume 1 
(resenha publicada em 16/04/2017)

Um livro obviamente indispensável para os fãs de Dylan, mas também importante para entender os critérios que nortearam a decisão da Academia Sueca ao escolhê-lo para receber a mais alta honraria concedida a um escritor ou poeta vivo, o Nobel de Literatura 2016, uma decisão polêmica que foi questionada por muitos romancistas, poetas ou simplesmente puristas da literatura tradicional. Esta edição bilíngue é dividida em dois volumes e cobre toda a carreira e discografia do cantor e compositor em ordem cronológica, inclusive com algumas canções inéditas lançadas apenas em álbuns ao vivo. O primeiro volume compreende o período de 1961 até 1974 com alguns clássicos que marcaram a história do Rock como: "Blowin' in the Wind", "Like a Rolling Stone", "Mr. Tambourine Man" e "The Times They Are A-Changing".
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(12) Chuck Palahniuk - Assombro 
(resenha publicada em 01/05/2017)

Perturbador, macabro, nauseante e brutal são alguns dos adjetivos normalmente associados a este livro de Chuck Palahniuk, autor de "Clube da Luta", romance de 1996 que se transformou em um filme cult na adaptação de 1999, dirigido por David Fincher e estrelado por Brad Pitt e Edward Norton. O filme já adiantava algumas pistas do estranho processo criativo de Palahniuk, um especialista em desnudar a decadência da raça humana em nosso tempo, mais especificamente na sociedade de consumo norte-americana, com seus personagens desajustados, autênticos perdedores ou "losers" como costumam ser chamados por lá. De fato, o estilo polêmico do autor alcança mesmo níveis perturbadores, verdadeiramente de repulsa, neste romance que é uma coleção de contos independentes.
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(13) Hilda Hilst - Da poesia 
(resenha publicada em 24/05/2017)

Um livro absolutamente imperdível. Tão pouco conhecida, a poesia de Hilda Hilst (1930-2004) enfim começa a ganhar o merecido lugar de destaque na literatura brasileira. Todos os seus poemas lançados em 25 livros, desde "Presságio", de 1950, até "Cantares do sem Nome e de Partidas", de 1995, reunidos em um único volume, em uma bem cuidada edição que conta com desenhos da própria Hilda, posfácio de Victor Heringer, texto de Lygia Fagundes Telles, carta de Caio Fernando Abreu para a autora e uma entrevista que Hilda concedeu a Vilma Arêas e Berta Waldman, publicada originalmente no Jornal do Brasil em 1989. Finalmente, uma seleção de versões e esboços de poemas inéditos, recolhidos na Casa do Sol e na Unicamp. Uma obra que se lê com prazer do início ao fim, mas que deve ser relida aos poucos, uma espécie de livro sagrado (e profano) para nos acompanhar por toda a vida.
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(14) Jorge Amado - Farda, Fardão, Camisola de Dormir 
(resenha publicada em 11/06/2017)

Jorge Amado (1912-2001) nunca foi devidamente reconhecido por grande parte da crítica literária brasileira, talvez devido ao sucesso de público de seus romances ou em decorrência das adaptações para cinema, teatro e televisão, mas isso só comprova que a aceitação popular não é sempre incompatível com o valor artístico, a sua obra é atemporal e universal, como todo grande autor deve ser. Entre seus muitos romances, "Farda, Fardão, Camisola de Dormir", lançado originalmente em 1979, é ignorado na maioria das compilações bibliográficas sobre autor e, de fato está longe de ser o melhor livro de Jorge Amado, contudo, algumas peculiaridades merecem reflexão se considerarmos o momento histórico atual do Brasil e do mundo, uma época em que as ideologias de extrema direita e um apelo ao nacionalismo e xenofobia ameaçam as liberdades individuais.

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(15) Sheyla Smanioto - Desesterro 
(resenha publicada em 31/07/2017)

Tinhosa essa jovem Sheyla Smanioto, ainda nem completou trinta anos e já é dona de uma linguagem forte e inovadora, inspirada na melhor tradição de autores como Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos e Guimarães Rosa. No entanto, não repete em nada o caminho já percorrido pelos clássicos, ela prefere escrever com coragem e voz própria sobre os temas, estes sim, infelizmente, ainda os mesmos na sociedade brasileira, os eternos movimentos migratórios que apenas transferem a miséria e a exclusão de grandes parcelas da população do interior para a periferia marginalizada das cidades, a violência doméstica diária contra a mulher e um estado de indigência permanente do povo, difícil de remediar porque é o reflexo de uma fome ainda maior, a fome de dignidade e educação. O texto de Sheyla vem carregado de imagens fortes, muitas vezes violentas, mas sempre com poesia e uma carga de dramaturgia que mistura realidade e sonho, refazendo também novos caminhos para o desgastado realismo mágico da literatura latino-americana.

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(16) Orhan Pamuk - Uma Sensação Estranha 
(resenha publicada em 11/08/2017)

Novamente a cidade de Istambul é a grande personagem do romancista Orhan Pamuk, prêmio Nobel de Literatura 2006. Localizada entre a Europa e a Ásia e conhecida no passado como Bizâncio e Constantinopla, durante séculos assimilou diferentes culturas, tendo feito parte dos impérios Romano, Bizantino e Otomano até ser incorporada à República da Turquia em 1923, como parte das reformas políticas implementadas por Mustafa Kemal Atatürk (1881-1938), quando perdeu o status de capital para Ancara. Istambul é recriada pelos olhos de Orhan Pamuk em alguns romances anteriores como O Livro Negro, O Museu da Inocência e, principalmente, na sua autobiografia Istambul onde a história de sua vida se confunde com a da cidade e é destacada a melancolia do eterno conflito entre modernização e tradição.

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(17) Anne Enright - A Estrada Verde 
(resenha publicada em 24/08/2017)

O reencontro de uma família irlandesa depois de muitos anos de afastamento é mais uma vez o tema de Anne Enright neste romance, um pano de fundo já utilizado com sucesso pela autora em "O Encontro", premiado com o Booker Prize de 2007. Em "A Estrada Verde", a narrativa em terceira pessoa descreve o efeito devastador da passagem do tempo, aproximadamente quatro décadas, na trajetória dos integrantes da família Madigan que retornam para a antiga casa de família no interior da Irlanda para comemorar o Natal. A matriarca Rosaleen vive sozinha e pretende comunicar aos quatro filhos: Constance, Dan, Emmet e Hanna, a sua decisão de vender a casa. O reencontro faz com que antigas relações de amor e ódio estejam novamente presentes e a reaproximação entre eles uma possibilidade cada vez mais remota. Será que a força dos laços familiares poderá superar as dificuldades e desentendimentos do passado?

Melhores resenhas de 2017
(18) Sinclair Lewis - Não vai acontecer aqui 
(resenha publicada em 23/10/2017)

Escrito em 1935 por Sinclair Lewis (1885-1951), primeiro norte-americano a ser agraciado com um prêmio Nobel de Literatura em 1930, este romance, que não era normalmente destacado em sua bibliografia, ganhou muito espaço na mídia este ano devido à eleição de Donald Trump e o crescimento dos movimentos de extrema direita em todo o mundo. Sinclair Lewis imaginou que a eleição de 1936 nos EUA seria ganha por um candidato populista, xenófobo e vaidoso com base em uma campanha que prometia aos eleitores um país próspero e grande novamente. É irresistível não comparar este personagem ao polêmico presidente norte-americano atual e sua plataforma política, fazendo do autor e sua distopia contra os regimes autoritários um perigoso alerta para o futuro. O romance narra a trajetória de Berzelius Windrip, ou simplesmente "Buzz" como foi chamado durante a campanha, candidato do partido democrata, demagogo e preconceituoso.

Melhores resenhas 2017
(19) Milton Hatoum - A Noite da Espera 
(resenha publicada em 02/11/2017)

Ótima notícia para a literatura, Milton Hatoum voltou a publicar e com uma trilogia! Nove anos depois de "Órfãos do Eldorado", o escritor amazonense muda o foco para as cidades de São Paulo, Brasília e Paris em um clássico romance de formação com início nos anos sessenta, durante os Anos de Chumbo do governo militar. Este primeiro volume apresenta uma narrativa fragmentada, alternando trechos de diários e cartas do jovem protagonista Martim que, aos dezesseis anos, deixa São Paulo juntamente com o pai para iniciar uma vida nova em Brasilia, depois de uma ruptura traumática do casamento. Martim relembra o seu passado alguns anos depois, já morando em Paris, nos anos setenta, transcrevendo trechos de suas memórias nos períodos de colégio e universidade em Brasília, o aprendizado cultural, político e amoroso, a convivência com um grupo de amigos estudantes de teatro e a criação coletiva de uma revista chamada Tribo.
(resenha publicada em 09/12/2017)

Sem dúvida um dos livros mais delirantes e criativos de Haruki Murakami, originalmente publicado em três volumes no Japão, de 1994 a 1995, foi traduzido para o inglês em 1997 e chega finalmente ao Brasil, depois de uma década de atraso, nesta edição traduzida diretamente do japonês por Eunice Suenaga. É recomendado para os fãs e também iniciantes no universo ficcional do autor que encontrarão nas quase oitocentas páginas, o estilo inconfundível que mais aproxima as culturas do ocidente e oriente com sua mistura de realismo mágico e literatura policial noir. Nesta obra, uma grata surpresa mesmo para os leitores já iniciados, muitas passagens de um excepcional romance histórico, alternando o foco da narrativa entre a cidade de Tóquio em 1984 e a região da Manchúria, ao final da Segunda Grande Guerra, quando o Japão é derrotado pelas forças da União Soviética, marcando o final da violenta ocupação da China. É claro que essas são localizações geográficas do mundo real e este, assim como todo bom romance de Haruki Murakami, também utiliza como cenário outras dimensões e mundos paralelos.

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