Adriane Garcia - Garrafas ao Mar

Poesia brasileira contemporânea
Adriane Garcia - Garrafas ao Mar - Editora Penalux - 164 Páginas - Capa e Projeto Gráfico: Micaelle Britto e Murilo Guerra - Prefácio de Alberto Bresciani - Lançamento: 2018.

Neste seu quarto livro de poemas, a mineira Adriane Garcia trabalha com o espanto provocado pelas metáforas no curto espaço de manobra de seus poemas. Ela consegue encontrar a palavra desconcertante e exata, chegando até a essência da ideia, tateando imagens e sensações na imprecisa região do inconsciente. A linguagem é sempre coloquial e direta em Garrafas ao Mar, me fazendo lembrar da citação de um grande poeta brasileiro, Ferreira Gullar, que afirmava: "O poema tem que ser um relâmpago. Ele tem que iluminar a tua cara, bater na tua cara como uma coisa vital"

A poesia de Adriane é isso, um relâmpago, mas também um pedido de socorro, como são as garrafas lançadas ao mar em busca de uma improvável salvação. O poeta aqui é visto como náufrago que ainda tem esperança, um "cavalo perdedor" que fala sobre a vida nas grandes metrópoles, muitas vezes violenta, vazia e triste, mas que pode se transformar em luz ofuscante no encantamento de um poema, afinal "As estrelas brilham é no breu" ou ainda, como também nos ensina a autora, "Quem aposta em cavalos vencedores / Não aposta nada".

Carrossel

Eu aposto em cavalos perdedores
Porque muitos só
Vencem
Depois de uma aposta

Eu sou um cavalo perdedor
E por isso
Muita vezes
Tive que 
Chegar na frente

Quem aposta em cavalos vencedores
Não aposta nada.

É irresistível a comparação do ato de lançar garrafas ao mar com a navegação virtual que vivenciamos hoje nas redes sociais, ferramentas que foram criadas pretensamente com o objetivo de aproximar as pessoas e atingem resultado oposto na prática. O poeta sabe que a solidão pode matar e que "Vida é coisa difícil / De carregar sem voar / Dentro", neste livro, até o desespero de um voo suicida se transforma em poema.

Voo do décimo oitavo andar

A mulher que pulou do
Prédio
Nunca mais morreu

Se não tomo os remédios
Penso na mulher do prédio
Se tomo os remédios
Penso na mulher do prédio

Vida é coisa difícil
De carregar sem voar
Dentro.

Foi bom ter recolhido essa garrafa do mar agitado e em dia chuvoso. Nesta época tão difícil em que vivemos, coitado de quem já não entende a poesia e não tem mais esperança de ser feliz. É preciso continuar sentindo a Inadequação de "Saber que há flores / Estando onde só há / Deserto." E, no final, descobrir a mensagem mais importante, viver é o que realmente importa: "E que importa o verso / Quando todas as luzes giram / Um carrossel dentro da gente?".

Garrafas ao mar

Pedi socorro por tantos dias quantos foram
Os de minha vida
Também encontrei garrafas
Às quais não abri

No fim, soube que o mar morria
E que encontraram baleias mortas
Abarrotadas de mensagens no estômago
Talvez, algumas delas fossem minhas

Sim, eu tive baleias na infância.

Sobre a autora: Adriane Garcia é formada em História pela Universidade Federal de Minas Gerais e se especializou em Arte-Educação na UEMG. Seu primeiro livro, Fábulas para adulto perder o sono (Editora Biblioteca do Paraná e Confraria do Vento, 2013), venceu o Prêmio Paraná de Literatura em 2013, na categoria poesia. Publicou também: O nome do mundo (Editora Armazém da Cultura, 2014) e Só, com peixes (Editora Confraria do Vento, 2015). Seu livro mais recente é Garrafas ao mar (Editora Penalux, 2018).

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