Daniela Stoll - Do lado de dentro do mar
Daniela Stoll - Do lado de dentro do mar - Editora Patuá - 164 Páginas - Ilustração, Projeto Gráfico e Diagramação: Luyse Costa - Apresentação de Sheyla Smanioto. Lançamento: 2018.
No seu romance de estreia, Daniela Stoll divide o protagonismo entre três mulheres de origens bem distintas: Sílvia, Margarete e Joaquina. Por força das circunstâncias, elas estabelecem um convívio e constroem uma relação de confiança e apoio mútuo. No entanto, apesar das diferenças de idade, educação e formação social, as personagens compartilham entre si uma mesma "solidão fundamental de ser mulher" ao enfrentar desafios semelhantes para conhecer e assumir a própria sexualidade e o seu papel na sociedade, ou seja, "a disputa dos espaços e dos corpos", como bem destacado por Sheyla Smanioto na apresentação.
O evento que dá início à narrativa é a separação entre Sílvia e André, uma decisão definitiva de Sílvia contestada pelo companheiro, que planeja uma obsessiva estratégia de postergação ao trazer a mãe, Margarete, para passar uma temporada de repouso no apartamento do casal sob o pretexto do tratamento da artrose nos joelhos. O convívio forçado entre sogra e nora, em meio à situação-limite, tem tudo pra dar errado. Mas, surpreendentemente, Sílvia e Margarete encontram alguns improváveis pontos em comum ao morarem juntas.
Joaquina, a jovem fisioterapeuta que vem tratar de Margarete, assim como a paciente vem do continente e tem a habilidade de confortar os seus pacientes, mas ela própria precisa descobrir o seu lugar no mundo e enfrentar os seus medos. Uma possibilidade de relação amorosa surge entre Sílvia e Joaquina, mas antes elas precisam conquistar o seu direito à liberdade e abandonar um tipo de vida sem reflexo: "Uma vida inteira em processo de agradar os homens, se envolver com homens, se desculpar com homens, se desvencilhar de homens, se deixar penetrar por homens, se enxergar através de homens, espelho sem reflexo."
Sobre a autora: Daniela Stoll é de Florianópolis e gosta de escrever histórias desde criança. Mestra em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina, iniciou os estudos no Doutorado, em 2018, no mesmo programa. É integrante do Núcleo Literatual (Núcleo de Literatura Brasileira Atual – Estudos Feministas e Pós-Coloniais de Narrativas da Contemporaneidade), também na UFSC. Graduada em Arquitetura e Urbanismo, interessa-se pelas cidades e suas dinâmicas, tanto cotidianas quanto políticas. Sua escrita busca conectar essas diferentes áreas de interesse – as cidades, a literatura, as mulheres – como em 'Do lado de dentro do mar', seu romance de estreia.
O evento que dá início à narrativa é a separação entre Sílvia e André, uma decisão definitiva de Sílvia contestada pelo companheiro, que planeja uma obsessiva estratégia de postergação ao trazer a mãe, Margarete, para passar uma temporada de repouso no apartamento do casal sob o pretexto do tratamento da artrose nos joelhos. O convívio forçado entre sogra e nora, em meio à situação-limite, tem tudo pra dar errado. Mas, surpreendentemente, Sílvia e Margarete encontram alguns improváveis pontos em comum ao morarem juntas.
"As duas ficaram sozinhas na sala. Margarete, em pé, ainda com a mão sobre o rosto, na frente da sacada, olhou para a nora que ela mal conhecia, a esposa que o filho tanto escondeu. Era a primeira vez que ficavam sozinhas. Margarete ainda podia voltar para a sacada, fugir, mas teria que enfrentar aquela vista mentirosa para o mar, aquela fresta entre prédios, postes e fios que escancarava tantas verdades. Era uma decisão difícil. / Sílvia, sentada à mesa, tinha o corpo pesado, a cabeça tonta do vinho começava a latejar: não dá mais, não dá mais esse casamento. Ficaram ali, as duas, se examinando com um olhar cuidadoso, de respeito e de curiosidade. Não. Era mais do que isso. / Era medo. Um medo terrível." - Trecho do capítulo 1 (p. 13)Um outro elemento importante no contexto do romance é a relação das personagens com a cidade de Florianópolis, uma peculiaridade geográfica cria uma segregação natural entre os habitantes das duas partes da cidade: os que vivem na ilha principal, a ilha de Santa Catarina, e a população mais pobre que ocupa a porção continental, menos valorizada em termos de valor dos imóveis. O título do romance é uma referência à população privilegiada que mora na ilha, ou "do lado de dentro do mar" como alude poeticamente a autora, mesmo que a vista para o mar seja uma pequena "fresta entre prédios, postes e fios", decorrente da especulação imobiliária.
Joaquina, a jovem fisioterapeuta que vem tratar de Margarete, assim como a paciente vem do continente e tem a habilidade de confortar os seus pacientes, mas ela própria precisa descobrir o seu lugar no mundo e enfrentar os seus medos. Uma possibilidade de relação amorosa surge entre Sílvia e Joaquina, mas antes elas precisam conquistar o seu direito à liberdade e abandonar um tipo de vida sem reflexo: "Uma vida inteira em processo de agradar os homens, se envolver com homens, se desculpar com homens, se desvencilhar de homens, se deixar penetrar por homens, se enxergar através de homens, espelho sem reflexo."
"No carro, Sílvia riu muito, bem mais do que Joaquina esperava. Estava relaxada, parecia feliz. Acabaram numa praia com nome de Joaquina, pois era engraçado. Sílvia não acreditava que Joaquina nunca tinha estado na praia com o nome dela, seria a primeira coisa que Sílvia faria, no seu lugar, ela disse. Saíram do carro e andaram pela rua deserta até alcançar as proximidades da praia. Uma escada foi conduzindo do concreto à areia, da luz intensa do poste à escuridão, e elas iam descendo já descalças, sapatos nas mãos, Joaquina na frente, cada passo um impulso mais forte. / De longe, o mar era uma mancha gigante e escura com alguns pontinhos de luz. Ventava muito. Toda vez que tentava falar, quebrava uma onda, o vento engolia a voz. A areia começou a levantar em revoada contra as pernas delas. Vinha tempestade. Sílvia sugeriu que voltassem, Joaquina quis molhar os pés na água do mar. Foi entrando nas ondas, ensaiou um mergulho, mas desistiu." - Trecho do capítulo 18 (pp. 75 e 76)Sílvia, Margarete e Joaquina, mulheres tão diferentes, mas com uma grande semelhança: precisam resolver os seus conflitos existenciais e relações afetivas em busca de uma felicidade que precisa ser conquistada e mantida a cada dia. O livro apresenta uma fascinante alegoria entre espaços e corpos como representação dessa luta feminina ancestral que resiste contra o preconceito em uma sociedade que permanece, apesar de tudo, eminentemente patriarcal.
Sobre a autora: Daniela Stoll é de Florianópolis e gosta de escrever histórias desde criança. Mestra em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina, iniciou os estudos no Doutorado, em 2018, no mesmo programa. É integrante do Núcleo Literatual (Núcleo de Literatura Brasileira Atual – Estudos Feministas e Pós-Coloniais de Narrativas da Contemporaneidade), também na UFSC. Graduada em Arquitetura e Urbanismo, interessa-se pelas cidades e suas dinâmicas, tanto cotidianas quanto políticas. Sua escrita busca conectar essas diferentes áreas de interesse – as cidades, a literatura, as mulheres – como em 'Do lado de dentro do mar', seu romance de estreia.
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