Matheus Peleteiro - Pro Inferno com Isso

Literatura brasileira contemporânea
Matheus Peleteiro - Pro Inferno com Isso - Edição do Autor - 148 Páginas - Arte de Capa: Themis Lima - Fotografia de Capa: João Regis Novaes - Lançamento: 2019.

Matheus Peleteiro é um jovem escritor apaixonado pelo estilo do romancista, contista e poeta genial Charles Bukowski (1920-1994) – que era também alcoólatra, jogador e vagabundo –, um homem "inadequado" para qualquer padrão imposto pela sociedade, mas que soube como poucos nos transmitir esta faísca que incendeia o espírito em qualquer tempo. Nesta antologia de contos, "Pro Inferno com Isso", desde o título percebemos a influência de Henry Chinaski, alter ego do velho bêbado, assim como em muitas das narrativas e personagens do livro, especialmente como o fantasma-protagonista no conto "Um encontro com o velho".

Buscando cativar a atenção do leitor com narrativas velozes e diálogos bem encadeados, Matheus Peleteiro demonstra estar no caminho certo, contudo precisa amadurecer a técnica e encontrar um estilo próprio, desafio de todo escritor iniciante, ou nem tão iniciante assim, que foi contaminado pelo vírus da literatura: "O vírus da literatura tinha me contaminado, e vacina nenhuma poderia ter me preparado para tal doença, que me corroía como um ácido e se apossava do meu corpo, dia após dia, como um amor que lhe rouba a liberdade e não te dá alternativas senão amá-lo e enxergá-lo como aquilo que te lembra que algo em você ainda vive."

"Volta e meia transformam tudo que há de melhor em pecado. Fora a destruição que tem acontecido com a língua. 'Lumbersexual', que porra é essa? Li algumas notícias e vi essa coisa sobre estilo lenhador, uma espécie de hipster sei lá o quê. HIPSTER, há termo mais pejorativo que este? Designaram conceitos relativos até mesmo à propensão dos seres humanos de amar a forma de pensar do outro.'Sapiosexual', se não me foge à memória. Diabos, depois de um belo par de pernas, o que mais estimula a paixão é o desafio gerado pela forma de pensar do outro, não precisamos dessa destruição linguística fodida." - Trecho do conto "Um encontro com o velho" (p. 63)

Entre os contos com maior potencial, gostei de "Eu vou foder com você!" e "Amor de puta", exemplos de como escrever sem censura, interna ou externa, o resultado nesses casos é sempre satisfatório porque, para escrever bem é necessário ter algo verdadeiro para dizer, algo que pode ser fruto da experiência ou da sensibilidade, mas que deve provocar a identificação e aceitação desta verdade no leitor (não necessariamente concordância).

"Enquanto transavam, ela sorria. Era um riso tenebroso e, ainda que o rapaz o tivesse enxergado, inicialmente, de modo excitante, após alguns instantes, quando notou que ela mantinha aquele riso sombrio de maneira doentia, notou terror em seu olhar, e um ar de pânico se manifestou sobre todo o seu corpo. Sentia medo, mas fingia não se importar. A loucura se assemelha à adrenalina, e a adrenalina lhe dava tesão. / 'Eu vou foder com você' – ela sussurou em seu ouvido'. / Ele sorriu e apenas continuou o ato. Depois, a cumprimentou desajeitadamente e foi embora, ainda um pouco assustado. Não confessou que não pretendia vê-la nunca mais." - Trecho do conto "Eu vou foder com você!" (p. 50)

As dificuldades do escritor no século XXI, inclusive a concorrência de youtubers e a ditadura da escrita criativa, seja lá o que isso possa significar, servem como matéria-prima para algumas das narrativas, como em "O suicídio de um poeta que não teve coragem de se matar", "O bar da escrita criativa" e "Entrevista na Gaiola dos Pedantes". Fica aqui a dica de um dos personagens que Matheus aplica em seus contos: "Literatura se planta com acidez e ironia".

"Ser poeta no século 21 era uma coisa engraçada. A diversidade havia se expandido demais e, agora, nos criticávamos como uma maneira de fortalecer nossos egos, que variavam às suas maneiras enquanto mantínhamos o preciosismo e a vaidade residindo em nossos versos. Os que se tornavam mais famosos, tratavam de criticar somente os mais famosos que eles, afinal, se comparar às novidades, por melhores que fossem, os rebaixavam no meio literário e os que não se tornavam, preenchiam o tempo condenando a sociedade nas redes sociais." - Trecho do conto "O suicídio de um poeta que não teve coragem de se matar" (p. 101)

Sobre o autor: Nascido em Salvador – BA em 1995, escritor, poeta e contista, Matheus Peleteiro publicou em 2015 o seu primeiro romance, Mundo Cão, pela editora Novo Século. Em 2016, lançou a novela intitulada Notas de um Megalomaníaco Minimalista, pela editora Giostri e o livro de poemas Tudo que Arde em Minha Garganta sem Voz, pela editora Penalux.

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