Cesar Garcia Lima - Bastante aos gritos
Em tempos sombrios a poesia nao pode silenciar, seja exercendo o papel de oposição às fake news, fenômeno recorrente nas redes sociais, como no oportuno poema "Fez que nius" que nos lembra como a política verde e amarela às vezes dá vontade de gritar: "excelências prontas para defender / a própria mediocridade / em dinheiro vivo"; ou no contraste entre a dura realidade cotidiana e a lembrança do pai, eternizado na ausência, como nos sensíveis versos de "Duplo", memórias de um passado já distante: "bem antes desses dias nublados, / em que o mal se confunde / com mandato".
"Bastante aos gritos" é o criativo título do quarto livro de poemas do acreano Cesar Garcia Lima, poeta, professor e jornalista, dividido em cinco partes: “Agora interminável”, “Nome aos boys", “Personas”, "Versão impressa”, "As cidades da memória” e “Autorretrato em fuga”, cada uma dessas partes reunindo poemas independentes na forma e conteúdo, mas sempre comprovando que o lirismo e a ironia não são incompatíveis ao fazer poético, principalmente quando é necessário falar sobre verdades incômodas.
Por exemplo, em "Agora Interminável" a realidade se impõe quando o poeta escreve versos sobre a exploração trabalhista dos entregadores de aplicativos, o título "Slave eats" nos alerta que escravo também precisa comer: "Paulo Roberto está com fome / e não tem como pagar / o que carrega." Já em "As cidades da memória", o poeta demonstra como as cidades mais lindas são aquelas que não existem na realidade, mas sim transformadas pela memória, como é o exemplo de "Roma Termini": "palavras cruzadas onde é proibido fumar / e todos fumam / falam da guerra e de como fugir / e é impossível a escuta / quando os trens dão partida / e os alto-falantes não param de gritar"
Fez que nius
(Agora Interminável - p. 24)
verde e amarela
Slave eats
(Agora Interminável - p. 26)
seu pedido que
Roma Termini
(As cidades da memória - p. 89)
é o ócio
Duplo
(Autorretrato em fuga - p. 111)
nossas idades se igualam
Sobre o autor: Cesar Garcia Lima nasceu em Rio Branco (AC) em 28 de janeiro de 1964. É autor de Águas desnecessárias (Nankin, 1997), Este livro não é um objeto (edição do autor, 2006) e Trópico de papel (7Letras, 2019), todos livros de poemas. Ainda em 2019, pela e-galáxia, reeditou Águas desnecessárias em e-book, com versões em português, inglês e espanhol. Entre 1991 e 1997, em São Paulo, participou do Cálamo, grupo de criação e pesquisa literária. Na universidade, cursou doutorado em Literatura Comparada (UERJ), mestrado em Literatura Brasileira (UFRJ) e bacharelado em Comunicação Social/Jornalismo (Cásper Líbero). Como diretor e roteirista de documentários, realizou Soldados da borracha (2010) e Onde minh' alma quer estar (2015). Vive no Rio de Janeiro.
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