Os melhores livros e resenhas de 2021

Literatura contemporânea

Passou muito rápido este ano de Pandemia que, diga-se de passagem, a literatura nos ajudou a superar novamente. Esta lista, como sempre, não reflete somente os lançamentos de 2021, mas também as melhores resenhas publicadas em ordem cronológica, como sempre com base apenas no meu gosto — sigam os links clicando no título dos livros para ler as resenhas completas. Desejo a todos um ótimo 2022 com muita literatura, cultura e arte em geral. Conto com a presença de vocês no Mundo de K.

Literatura brasileira contemporanea
(01) Mário Araújo - Breu (resenha publicada em 28/12/2020)

Mário Araújo conduz o seu romance de estreia com muita segurança ao utilizar diferentes vozes narrativas – todas de mulheres – para contar a trajetória de quatro gerações de uma mesma família ao longo de quarenta e cinco anos, iniciando em Porto Alegre e Santa Catarina até se estabelecer em Curitiba. O exercício de polifonia adiciona camadas com novos pontos de vista para os mesmos eventos que se tornam mais claros no decorrer da leitura. As protagonistas, inspiradas em pessoas simples de uma classe média baixa, procuram vencer as dificuldades e superar as tragédias que a vida lhes impõe, nem sempre com sentimentos nobres. Impossível não lembrar da frase inicial de Anna Kariênina de Tolstói: "Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz à sua maneira."

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Literatura brasileira contemporânea
(02) Marcela Dantés - Nem sinal de asas (resenha publicada em 16/01/2021)

O romance de estreia de Marcela Dantés tem como eixo central a morte de Anja Santiago, uma personagem rara que passou pela vida com uma "imensa vontade de ser invisível" no apartamento novecentos e dois do Edifício Hotel Lucas. Foram anos marcados por "uma eterna sucessão de solidões" e tendo como único companheiro o gato Rinoceronte, lento e desastrado, com quem ela compartilhava da mesma aversão por gente, "preferia o silêncio de uma noite escura". Morreu sozinha em um prédio com dezenas de pessoas e continuou sozinha até o seu corpo ser descoberto, cinco anos depois. Pode parecer um argumento improvável, contudo, como ocorre tantas vezes, a realidade é mais surpreendente do que a ficção.

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Literatura brasileira contemporânea
(03) Maíra Valério - Homens que nunca conheci (resenha publicada em 23/01/2021)

Maíra Valério nos apresenta em seus contos uma coleção de personagens que definem muito bem a desesperança de uma época na qual passamos a maior parte do dia em frente a uma tela, permanecendo com o olhar perdido nos aplicativos, sempre conectados e cada vez mais solitários, editando boa parte daquilo que realmente somos para nos transformar no que esperam de nós. Em uma epígrafe para um dos contos, a autora destacou uma afirmação visionária da escritora francesa George Sand em uma carta de 1834: "Oculta de mim tua alma, para que eu sempre possa acreditá-la bela", antecipando tão bem o que fazemos hoje nas redes sociais.

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Literatura brasileira contemporânea
(04) Anita Deak - No fundo do oceano, os animais invisíveis (resenha publicada em 06/02/021)

Um romance de formação no qual acompanhamos a trajetória do narrador-personagem Pedro Justiniano Coriolano Naves desde a infância, cercado pela natureza na fazenda da família, localizada na fictícia cidade de Ordem e Progreso, até a sua atuação na Guerrilha do Araguaia, entre abril de 1972 e o início de 1975, um movimento armado de resistência à ditadura na região amazônica até hoje envolto em silêncio. Contudo, este resumo é insuficiente para entender a aventura literária proposta pela autora que, em um exercício de lapidação da linguagem até o essencial e uma narrativa não linear, muito além dos saltos temporais entre passado e presente, surpreende o leitor com um estilo forte e original.

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Literatura brasileira contemporânea
(05) Silviano Santiago - Menino sem passado (resenha publicada em 21/02/2021)

Primeiro volume da autobiografia, período da infância em Formiga, Minas Gerais, de 1936 a 1948, intervalo coincidente com a Segunda Grande Guerra e o Estado Novo no Brasil. Não encontraremos aqui um livro de memórias tradicional, mas uma combinação da prosa ensaísta e de ficção tão característica do autor, na qual a memória não obedece uma cronologia básica, muito menos uma genealogia biológica. As pessoas retratadas, inclusive o próprio Silviano – chamado de "menino sonâmbulo" – não estão fixadas em seu próprio presente, ou seja, é obtida uma elasticidade ou liberdade narrativa, por meio de constantes saltos temporais, que subdividem o presente em passado e futuro, eliminando a sensação de presentificação.

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Literatura brasileira contemporânea
(06) Mário Baggio - Verás que tudo é mentira (resenha publicada em 27/02/2021)

O paranaense Mário Baggio é um especialista na técnica da narrativa curta. Inspirado na melhor tradição de grandes autores da escola hispano-americana, como Horacio Quiroga, Julio Cortázar e, mais recentemente, Samanta Schweblin – para citar apenas três exemplos na linha do tempo – desenvolve um estilo muito próprio de literatura fantástica ao se rebelar contra o absurdo da realidade cotidiana, transformando-a em ficção. Nesta sua quarta antologia de contos, o autor reflete sobre a mentira e a nossa eterna e "irresistível atração pelo engano". Quem sabe essa nossa capacidade de iludir e contar histórias ainda vai nos salvar da barbárie.

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Literatura brasileira contemporânea
(07) Whisner Fraga - O que devíamos ter feito (resenha publicada em 05/03/2021)

uma antologia de contos que demonstra o amadurecimento de uma técnica refinada e original, tanto na forma quanto no conteúdo dos textos, construídos com base em uma prosa poética e reflexões instigantes dos personagens ao serem confrontados com os impasses existenciais, morais e políticos da atualidade, fazendo pensar em nossas próprias escolhas ao longo da vida, principalmente se considerarmos o título como um questionamento, ainda que possa ser interpretado também como afirmação. Contudo, em ambos os casos, a sensação é de um amargo arrependimento.

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Literatura brasileira contemporânea
(08) Milton Coutinho - No domínio de Suã 
(resenha publicada em 27/03/2021)

Milton Coutinho demonstra domínio da linguagem e segurança narrativa em seu mais recente lançamento ao confundir os limites entre ficção e realidade em um exercício constante de metaficção e intertextualidade no melhor estilo de escritores como Italo Calvino e Enrique Vila-Matas, sem contudo deixar de flertar com a técnica e ironia machadianas como, por exemplo, no clássico romance Memórias Póstumas de Brás Cubas. Trata-se, portanto, de uma obra na qual as memórias literárias e artísticas do autor assumem um papel central no contexto narrativo. O tom irônico e provocativo está presente logo no título, uma referência ao primeiro volume – No caminho de Swann – de Em busca do tempo perdido de Marcel Proust.

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Literatura brasileira contemporânea
(09) Jozias Benedicto - Aqui até o céu escreve ficção (resenha publicada em 01/04/2021)

Lendo a deliciosa autoficção de Jozias Benedicto nesta antologia de contos – obra vencedora do Prêmio Literário 2018 do Governo do Maranhão –, me ocorre um sentimento de melancolia ao perceber que as nossas melhores lembranças são sempre o resultado de um pouco de fantasia, uma adaptação do que realmente aconteceu, como na famosa autobiografia de Gabriel García Márquez, Viver para contar, citada por Antonio Carlos Lima no prefácio deste livro: "A vida não é a que a gente viveu, e sim a que a gente recorda, e como recorda para contá-la." Assim, já não precisamos saber o que é verdade ou ficção, mas isso importa verdadeiramente? Acho que não.

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Literatura brasileira contemporânea
(10) Natércia Pontes - Os tais caquinhos (resenha publicada em 04/04/2021)

Certamente você já conheceu ou, até mesmo, conviveu com um acumulador compulsivo, uma pessoa que não consegue se desfazer de coisas supostamente inúteis, tais como embalagens de presentes, caixas de papelão, jornais, revistas, agendas e calendários velhos, copos de geleia ou requeijão usados e toda sorte de objetos que, aos poucos, passam a dominar os ambientes da casa. Utilizando uma técnica que alterna fluxos de consciência e fragmentos narrativos do diário da personagem, Natércia Pontes nos apresenta um romance de formação diferente e sensível ao escrever sobre as dores do amadurecimento e as dificuldades das relações humanas, em especial as familiares.

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Literatura brasileira contemporânea
(11) Vanessa Vascouto - Terra dentro (resenha publicada em 10/04/2021)

O romance, ou novela, de Vanessa Vascouto, tem como cenário uma região rural, não situada no tempo e espaço, onde ocorre uma história de amor com desfecho trágico. Contudo, mais importante do que a sinopse da trama, é a experiência literária proposta pela autora, ou seja, a forma como a narrativa é conduzida em primeira pessoa e alternadamente entre três irmãos, assim como a construção de cada uma dessas vozes a partir de uma linguagem que demonstra ritmo e expressão próprias, utilizando para isso elementos da prosa, poesia e dramaturgia. Ao limitar a sua fábula em um espaço tão restrito e deixar os seus personagens conduzam o leitor em primeira pessoa, Vanessa alcança um caráter universal nesta obra ao lidar com o bem e o mal presentes na natureza humana.

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Literatura norte-americana
(12) Rebecca Solnit - Recordações da minha inexistência (resenha publicada em 12/042021)

A escritora e historiadora norte-americana Rebecca Solnit se tornou mundialmente conhecida a partir do sucesso do seu livro de 2017: Os homens explicam tudo para mim. Neste best-seller, que se tornou um importante marco na defesa do feminismo, ela descreve um episódio no qual um homem passou uma festa inteira falando de um livro que “ela deveria ler”, sem lhe dar chance de dizer que, na verdade, ela era a autora. Este ensaio inspirou a expressão "mansplaining", geralmente creditada a ela, que significa explicação condescendente feita por homens para mulheres supostamente menos qualificadas.

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Literatura brasileira contemporânea
(13) Kátia Borges - A teoria da felicidade  (resenha publicada em 17/04/2021)

Os nossos autores e autoras souberam construir uma sólida tradição na arte de escrever crônicas com uma habilidade inata de expressar opiniões sobre os mais variados temas, alguns bastante complexos, de forma leve e bem-humorada. Como já comentei por aqui, a crônica é um texto que, normalmente já nasce predestinado a uma breve existência nos meios de comunicação, além da ameaça de se tornar precocemente datado, devido à velocidade do noticiário atual, principalmente no campo político, onde novas publicações mudam as expectativas e opiniões polarizadas do grande público em poucos dias ou até mesmo horas, infelizmente nem sempre com o devido embasamento.

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Literatura brasileira contemporânea
(14) Micheliny Verunschk - O som do rugido da onça (resenha publicada em 02/05/2021)

Um romance histórico bem diferente porque é narrado a partir do ponto de vista da cultura dos povos originários. Sabemos que a formação da nação brasileira não foi pacífica e a assimilação da cultura indígena ocorreu na forma de um verdadeiro genocídio, inicialmente como guerra bacteriológica entre as moléstias que o branco trazia e eram fatais para a população indígena e, posteriormente, pelas sucessivas tentativas de escravização dos nativos. O livro foi inspirado pelas litografias de duas crianças indígenas, nomedas como Miranha e Juri, publicadas no album Viagens ao Brasil em 1823 pelo zoólogo Johann Baptist von Spix e e o botânico Carl Fiedrich von Martius.

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Literatura brasileira contemporânea
(15) Sonia Sant'Anna - Rondó (resenha publicada em 12/05/2021)

Sonia Sant`Anna já tem o seu nome consagrado no gênero romance histórico, mas surpreende agora com este mais recente lançamento que reúne dezoito contos e uma novela de cunho memorialista. Na verdade, o livro confirma a vocação literária de uma família de escritores, tão bem representada pelos seus irmãos Sergio Sant`Anna (1941-2020) e Ivan Sant'Anna, além do sobrinho André, filho do saudoso Sergio. Contudo, se, por um lado, esta proximidade com profissionais da literatura foi certamente positiva como influência; por outro, imagino que tenha gerado alguma ansiedade para atender as expectativas, assim como eventuais comparações.

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Literatura brasileira contemporânea
(16) Aline Bei - Pequena coreografia do adeus (resenha publicada em 21/05/2021)

Aline Bei enfrenta o desafio de lançar o segundo livro depois do estrondoso sucesso de crítica e público de O peso do pássaro morto (2017), vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura, ou seja, vencer a síndrome do segundo romance que, nesses casos, se caracteriza pela própria expectativa em manter ou, de preferência, superar o nível de qualidade do primeiro lançamento. Em Pequena coreografia do adeus, a autora consolida a sua criativa técnica de "romance-poema" ao incorporar elementos de prosa e poesia, assim como o efeito da distribuição das palavras na página impressa e diferentes tamanhos de fonte, conseguindo uma ferramenta inusitada de controle do ritmo narrativo.

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Literatura japonesa contemporânea
(17) Haruki Murakami - Sul da fronteira, oeste do sol (resenha publicada em 26/05/2021)

Lançado originalmente em 1992, Sul da fronteira, oeste do sol é um romance narrado em retrospectiva por Hajime, um protagonista que se aproxima da meia-idade com um casamento estável e duas filhas, tendo se tornado um bem-sucedido proprietário de dois bares de jazz em Tóquio. No entanto, depois de muitos anos, ao reencontrar e se apaixonar por Shimamoto, uma amiga de infância, enfrenta uma crise existencial e questiona a suposta felicidade de uma vida confortável e resolvida. Um enredo aparentemente simples, caso não estivésemos tratando de um livro de Haruki Murakami. A fixação musical do autor está presente desde o título. South of the border é uma canção de 1939, gravada por Frank Sinatra.

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Poesia brasileira contemporânea
(18) Diego Ruas - A fome é a mãe de todas as bombas (resenha publicada em 04/06/2021)

Como fica claro a partir do título – A fome é a mãe de todas as bombas – não falta engajamento político ao livro de Diego Ruas, afinal o poeta não pode ignorar a realidade que o cerca, já gritam os versos iniciais: "Como ser neutro, se a realidade / é uma lâmina que atravessa meu peito / e recorta meu país em classes?" ou no aviso que cala fundo em nossa alma: "Se a gente não toma cuidado, / a vida se torna morte / cotidiana, do melhor / que a gente tem / dentro / de / nós.", não podemos deixar que isso aconteça e para nos alertar serve também a poesia.

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Literatura brasileira contemporânea
(19) Denis Rafael Ramos - Para que se façam sempre os dias e as noites (resenha publicada em 18/06/2021)

A escolha da capa nos remete ao impressionismo de Renoir e antecipa a técnica refinada empregada nesta novela que, apesar da curta extensão, nos encanta pela densidade e maturidade na condução da narrativa, ambientada em uma época e local indefinidos e sob o ponto de vista de Nazaré, o filho caçula que nos apresenta a história da própria família, marcada pela morte violenta do pai. Trata-se de uma obra diferenciada por abordar temas difíceis como a morte, a perda da inocência e a relatividade do tempo em um espaço tão reduzido, tudo isso empregando sempre um cuidado artesanal com a linguagem.

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Literatura brasileira contemporânea
(20) Leonardo Valente - criogenia de D. (resenha publicada em 26/06/2021)

Todos conhecemos os benefícios de um narrador pouco confiável como estratégia narrativa ficcional, tanto para a revelação controlada de elementos da trama quanto para a construção de um desfecho inesperado, contudo, em seu mais recente lançamento, Leonardo Valente leva este recurso até as últimas consequências ao nos apresentar um(a) protagonista sem gênero fixo que, ao desnudar-se de maneira farsesca, busca a perpetuação criogênica pela escrita, revelando ao mesmo tempo os impasses e ansiedades tão comuns do nosso tempo. Um livro difícil de definir e resenhar porque a androginia de D. provoca uma falta de referência que a princípio desnorteia o leitor,

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Clássicos da literatura
(21) Vladimir Nabokov - Ada ou Ardor: Crônica de uma família 
(resenha publicada em 17/07/2021)

Vladimir Nabokov (1899-1977) é um autor que soube como poucos tangenciar o perigoso limite entre a literatura e a perversão, se é que tal limite existe de fato. Lolita, lançado em 1955, é o seu romance mais conhecido e também controverso ao descrever a paixão doentia de um professor universitário de meia-idade por sua enteada de 12 anos, com quem se envolve sexualmente. Ada ou Ardor, publicado originalmente em 1969 e também escrito em inglês, é um romance bem mais ambicioso e complexo do ponto de vista literário, contudo volta a abordar de forma explícita os temas de pedofilia e incesto. Repleta de perversões e subversões, esta é uma obra que deve ser lida por todos que se interessam pela literatura ocidental. 

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Poesia espanhola contemporânea
(22) Roberto Bolaño - A Universidade Desconhecida (resenha publicada em 15/08/2021)

Roberto Bolaño (1953-2003) se tornou mundialmente conhecido após o lançamento de seus monumentais romances 2666 e Os detetives selvagens. 2666, por exemplo, foi publicado postumamente na Espanha em 2004 e alcançou um tremendo êxito editorial após a tradução americana, lançada nos EUA em 2008, eleito o livro do ano pela Time Magazine e vencedor do National Book Critics Award daquele ano, elevou o autor chileno (e que então todos imaginavam ser mexicano) à categoria de mito literário, comparado somente aos escritores da geração beat. Tanto sucesso na prosa ofuscou o talento de Roberto Bolaño como poeta, apesar dele ter mantido uma produção constante de poesia toda a vida.

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Poesia brasileira contemporânea
(23) Cesar Garcia Lima - Bastante aos gritos (resenha publicada em 28/08/2021)

Em tempos sombrios a poesia nao pode silenciar, seja exercendo o papel de oposição às fake news, fenômeno recorrente nas redes sociais, como no oportuno poema "Fez que nius" que nos lembra como a política verde e amarela às vezes dá vontade de gritar: "excelências prontas para defender / a própria mediocridade / em dinheiro vivo"; ou no contraste entre a dura realidade cotidiana e a lembrança do pai, eternizado na ausência, como nos sensíveis versos de "Duplo", memórias de um passado já distante: "bem antes desses dias nublados, / em que o mal se confunde / com mandato".

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Literatura brasileira contemporânea
(24) Tiago Germano - Catálogo de pequenas espécies (resenha publicada em 05/09/2021)

Com notável domínio da técnica narrativa e uma ironia bem-humorada, Tiago Germano nos mostra a violência, o absurdo e o ridículo da condição humana em uma época na qual o nosso comportamento se aproxima tanto da natureza animal naquilo que ela tem de mais selvagem e, portanto, nos nivelando a outras espécies pretensamente menos evoluídas. De fato, alguns representantes da espécie conhecida como Homo sapiens não têm feito bom uso de suas características como o raciocínio abstrato, a linguagem e a resolução de problemas complexos. 

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Literatura brasileira contemporânea
(25) Antônio Xerxenesky - Uma tristeza infinita (resenha publicada em 18/09/2021)

A primeira surpresa neste mais recente lançamento de Antônio Xerxenesky é que a trama do romance, situada no período de 1952 a 1953, portanto logo após o final da Segunda Guerra Mundial, não se passa no Brasil, assim como os personagens não são brasileiros. Nicolas é um jovem psiquiatra francês contratado para trabalhar em uma clínica psiquiátrica próxima de um vilarejo na Suíça, para onde ele se muda com a esposa Anna. No entanto, apesar do afastamento no tempo e espaço, algumas situações podem ser associadas aos problemas contemporâneos da nossa sociedade, como a culpa e a responsabilidade histórica diante de escolhas políticas equivocadas

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Literatura brasileira contemporânea
(26) Lilia Guerra - Rua do Larguinho (resenha publicada em 02/10/2021)

O mais recente lançamento de Lilia Guerra segue a fórmula muito bem realizada no seu livro anterior, Perifobia, ou seja, alguns textos podem ser lidos de forma independente como se fossem contos, contudo as ligações entre as mesmas personagens compõem uma trama apoiando a narrativa principal do romance que, neste caso, tem como base a linda história de Domênica, desde os anos 1980, Cata-Vento como era chamada pela avó, Pití barriga d'água pela criançada do bairro ou simplesmente Pití quando adulta. Uma história semelhante a de tantas outras mulheres negras excluídas, sobrevivendo nas comunidades carentes dos grandes centros urbanos brasileiros.

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Literatura brasileira contemporânea
(27) Andréa del Fuego - A pediatra (resenha publicada em 14/10/2021)

Um romance daquele tipo que se lê de um só fôlego, uma vez iniciado não se consegue parar. A protagonista, Dra. Cecília Tomé Vilela, verdadeiro achado literário, é uma pediatra que detesta crianças e tem um nível de empatia praticamente nulo com relação às mães, além de uma coleção de preconceitos que nivela o seu comportamento a um diagnóstico de psicopatia. Ainda assim, confesso que me apaixonei por ela e você também não vai resistir ao insuperável charme do mal, que somente os melhores vilões conseguem emanar. Assusta um pouco imaginar que possam haver pediatras e profissionais da área de saúde como Cecília, mas não há como ficar imune à sedução que ela provoca, uma personagem que representa muito bem a nossa época.

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Clássicos da Literatura
(28) Tonii Morrison - Sula (resenha publicada em 31/10/2021)

Sula, lançado originalmente em 1974, é o segundo romance de Toni Morrison (1931-2019), prêmio Nobel de Literatura de 1993, depois do clássico O olho mais azul (1970). Por sinal, toda a bibliografia da autora é considerada hoje um patrimônio da literatura norte-americana e mundial, tendo sido reconhecida por uma lista considerável de prêmios que culminaram em 2017 com a Medalha Presidencial da Liberdade, a mais alta honraria civil nos EUA, nivelando Morrison a escritores importantes do passado como: T. S. Eliot, John Steinbeck, Tennessee Williams e Maya Angelou, outra grande ativista da causa da integração racial no país. Apesar da importância política da obra de Toni Morrison, os romances merecem ser apreciados principalmente pela beleza e força incomparável do texto.

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Literatura brasileira contemporânea
(29) Chico Buarque - Anos de chumbo e outros contos 
(resenha publicada em 14/11/2021)

Chico Buarque faz a sua estreia no gênero de contos com uma antologia que reúne, em sua maioria, narrativas ambientadas na cidade do Rio de Janeiro, sempre com base no olhar irônico e bem-humorado do autor, tão característico do carioca e do brasileiro em geral. O bom humor é um elemento que tem estado ausente da crônica e da literatura contemporânea por motivos óbvios, exigindo cada vez mais técnica, imaginação e originalidade dos escritores para refletir sobre as nossas mazelas políticas, sociais e pessoais de forma leve. Este objetivo é alcançado com sucesso, mesmo ao descrever temas incômodos e que preferimos esquecer.

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Literatura brasileira contemporânea
(30) Rafaela Tavares Kawasaki - Peixes de aquário (resenha publicada em 05/12/2021)

O romance de estreia de Rafaela Tavares Kawasaki surpreende pelo cuidado com a pesquisa histórica sobre o período de isolamento da colônia japonesa no Brasil na década de 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, e o rompimento das relações diplomáticas e comerciais com a Alemanha, Itália e Japão. Na época, esta decisão provocou um profundo sentimento de xenofobia nacional com a adoção de medidas restritivas contra a circulação de quaisquer documentos e até mesmo reuniões onde se falasse os idiomas dos países do Eixo em lugares públicos, proibição dos jornais e escolas em língua japonesa e até mesmo o uso do rádio nas residências.

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Comentários

Vera disse…
Prezado A Kovacs, gostei muito da sua seleçao: escritas atuais, brasileiras. Compartilhei no fb. Sucesso! Que venha um bom ano!
Alexandre Kovacs disse…
Oi Vera, obrigado pela visita e comentário. A literatura contemporânea brasileira está sempre presente por aqui com espaço aberto para novos autores.

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